terça-feira, 31 de outubro de 2017

POETISA DISSECADA: Horror, poesia e atitude

A mistura da energia do punk rock com a atmosfera de pavor poético que sentimos ao ler Poe poderia dar certo? A resposta é sim, e é o que você confere no som dessa banda mineira que já desponta como outra das grandes promessas de novas bandas nacionais. Confira agora mais detalhes neste bate-papo exclusivo!




Conte para nós de onde surgiu a ideia para formar a Poetisa Dissecada.
Primeiramente, agradecemos pelo espaço, querido amigo. Que seus projetos tenham vida longa! A ideia da banda surgiu aos poucos... na medida em que meu antigo projeto "Opium Eater" foi se desfazendo, a Poetisa se tornou um embrião na minha cabeça. Na época, estava acontecendo um bom momento de eventos punk na cidade, momento que agora parece estar severamente enfraquecido. A cena gótica, se é que podemos usar o termo "cena" para o que acontece em Juiz de Fora, nunca foi forte por aqui, sempre careceu muito de qualquer tipo de atividade e interesse dos que vivem dizendo que dela fazem parte. Eu e Júlia começamos a frequentar mais do que o de costume esses eventos, que eram organizados também pelo nosso ex guitarrista. Tudo que tínhamos até então era o nome da banda e a ideia do que queríamos passar, junto com algumas bases feitas de bateria eletrônica e voz... convidei o ex guitarrista Juarez para o projeto, em seguida a Júlia, minha namorada, para o baixo, e, por último, a Fabiola (ex baterista) se juntou a nós. Atualmente a banda está com formação nova, sendo o Bernardo Falcão na guitarra, e Eduardo Vianna na bateria.

Qual é a mensagem que a banda quer passar para o público?
Bom, em termos musicais, a banda tenta passar ao público (gostamos mais de chamar de "amigos que acompanham a banda" ), algumas ideias de poesia, arte e filosofia, que são coisas com as quais nós buscamos certo diálogo, sempre. Mano...a maioria das bandas que vejo surgir, principalmente na cena Punk, são muito "mais do mesmo", muito barulho, o que leva muitas vezes à diluição da mensagem. Estamos gravando um álbum novo para a banda, que em outubro deve estar no ar, e nele traremos um pouco da filosofia do Nietzsche, assim como um poema musicalizado do Charles Baudelaire, chamado "O Morto Alegre", cujo sentido do poema parece pra mim uma das mais lindas formas de dizer sobre uma aceitação plena, e sincera, da morte. Mas, para além do som... creio que a mensagem seja, entre outras coisas, resistência e união, pois em tempos sombrios como os que vivemos na politica do país e do mundo, as posições opressoras e extremistas crescem a cada vez mais, criando uma onda de pessoas idiotizadas e manipuladas, cheias de ideias tortas, que devemos manter sob combate constante. Sempre costumo citar as Mercenárias quando falo de união, afinal: "Estamos todos por baixo das mesmas garras."

Seu recente EP, "O Deus Verme" tem sido elogiado pelo público underground, inclusive por integrantes das cenas góticas e deathrock de fora do país. Gostaríamos que falassem um pouco sobre o EP e qual a sensação diante de uma resposta tão positiva do público;
"O elogio é a moeda do artista!" haha.. O Deus Verme foi o primeiro ep, por onde as pessoas puderam realmente conhecer a proposta da banda... acho que não tem como definir a surpresa que é, e que foi, pra nós, receber mensagens de pessoas de diversos lugares, nos dando apoio, elogiando, curtindo o som.
Quando a gente curte um som underground, uma banda nova que surge, ou alguma antiga lançando coisa nova, fazemos sempre questão de dizer isso ao artista, e, se possível, ajudamos a divulgar o trabalho dele, porque acreditamos que o underground também é feito disso... Tudo que fazemos, é feito sob o suor do nosso próprio esforço, sem qualquer ajuda de fora. É, literalmente, feito de amigos, para amigos. Então, quando estes amigos "abraçam" a ideia, isso nos motiva a continuar fazendo. Os integrantes das cenas gótica e deathrock de fora do país que vc citou, creio que sejam nossos queridos amigos de Luanda, na Africa. Conhecemos eles através da banda, eles mandaram mensagens elogiando, e disseram que na cidade deles a banda é conhecida. Tomamos um puta susto, claro... não sabíamos que tinha chegado tão longe, e, desde então, acompanho a cena linda que eles formam lá, sempre se comunicando com a gente, e contando sobre os planos deles para eventos, e uma banda que pensam em montar. Nosso maior sonho, pelo menos o meu e o da Júlia, é um dia fazer um show lá. Se um dia eu tocasse em Luanda para galera de lá, eu poderia morrer feliz, porque seria a melhor coisa que poderia acontecer!

O Poetisa Dissecada está mais para um punk rock dark ou para um gótico mais rebelde? Não resistimos a essa pergunta, rs... 
Bom... eu não sei! kkk mas uma coisa é certa, nosso próximo álbum vai estar diferente do primeiro, em muitos aspectos, mas acredito que o principal seja no tom mais sombrio. Na Poetisa todos os integrantes são muito participativos, principalmente na hora de compor, de criar, então, com a mudança de guitarrista, toda a esfera é modificada, isso é normal. Com o Bernardo e a Júlia no comando das cordas as coisas já não são mais as mesmas, porque agora há outras influências envolvidas... eu espero que gostem!!

Quais os planos da Poetisa Dissecada para o futuro? Teremos novidades para breve?
Sim! Neste momento estamos terminando de gravar o cd novo, que contará com oito faixas, e se chama Morte Absoluta. Nosso plano é lançar em plataformas virtuais, e também em versão física. Antes do lançamento do cd pretendemos lançar um vídeo (D.I.Y vídeo) de uma das novas músicas, como uma prévia do que virá. Fora isso, planejamos tocar muito, passar por São Paulo, e pelos lugares onde há amigos que gostam, ou que poderiam gostar do que estamos fazendo.


Você pode adquirir o EP “O Deus Verme” (que nós simplesmente não conseguimos parar de ouvir) através da página da banda no Facebook: www.facebook.com/poetisadissecada

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Entrevista: LES CHATS NOIRS

Batemos um papo com uma das grandes e novas promessas da Darkwave nacional. 
Confira!


Sabemos que a inspiração para a formação do projeto se deu no Wave Summer Festival, onde alguns de nós também estávamos lá. Contem para nós como essa ideia surgiu e no que o evento influenciou o nascimento da Les Chats Noirs.
Isso mesmo. Lucien nasceu numa família de músicos e sempre estudou música, além de amar compor. Já no meu caso, eu acredito ter uma bagagem musical muito grande do meio gótico e darkwave, já que ouvia grandes bandas desse estilo e isso foi fundamental para começarmos o projeto. Já fui a um dos maiores festivais góticos da Alemanha, o Meraluna, em 2009 e lá a gente pode ter a real dimensão da cena gótica, que é linda e está muito viva. Esperamos agora ter a oportunidade de ir ao WGT em Leipzig que é o maior evento da cena atual. No Wave Summer Festival, em 2015, nós voltamos inspiradíssimos para começar o projeto e eu comecei a, digamos, “receber” melodias para piano e começamos a compor as primeiras faixas: “Love and Passion”, que tem uma levada mais para o Gothic rock e “Lestat”, que possui uma atmosfera mais densa remontando ao vampiro da nossa querida Anne Rice. Logo depois da morte do pai de Lucien surgiu “Death is Alive”, numa tarde cinzenta e fria de Agosto em que caminhávamos por uma praia. No clipe, nós aparecemos como dois “anjos da morte” que anunciam e vêm buscar a alma da moça que chora. “Eternal Love” é mais romântica e fala de nós mesmos quando nos conhecemos. Aliás, o nosso próximo clipe será dessa música. O Lucien é dos anos 80. Ele viveu o punk e o pós-punk. Nasceu em Curitiba, uma cidade com muita influência de música inglesa. As pessoas andavam vestidas como seus ídolos, Johnny Rotten, Siouxsie, Robert Smith, Morrisey, Ian Astbury e outros. Curitiba nos anos 80 teve seu auge, a cidade abraçou o movimento pós-punk inglês de uma maneira muito intensa. Eram muitos encontros para escutar aquele lp daquela banda especial, que algum jornalista tinha escrito em alguma revista. Bandas como Echo and the Bunnymen, Dead Can Dance, Gang of Four, Cocteau Twins e tantas outras. Então Então, em 1987 ele, junto com seu irmão, criaram a banda Tessália, que misturava todas estas tendências, meio gótica, meio ethereal, muita experimentação, efeitos... eles tocavam com vestes, inspirados pelo vídeo da música Atmosphere Em 90 foram morar em Londres, onde quase assinaram com as gravadoras Rough Trade (The Smiths) e 4AD (Cocteau Twins, Dead Can Dance, Clan of Xymox), mas o destino... Lucien chegou a conhecer o dono da 4AD, o lendário Ivo, homenageado em uma das músicas da banda Cocteau Twins). Sem uma banda de apoio, Lucien entrou em depressão, voltou ao Brasil e foi morar nos Estados Unidos por 3 anos, onde conheceu músicos do underground como Mark Sandman da banda Morphine e Kristin Hersh da banda Throwing Muses. Por muitos e muitos anos achou que o estilo gótico tinha acabado, até conhecer Nyx. Nyx mostrou a Lucien que não só nao tinha acabado, como estava muito vivo, com excelentes bandas, tanto na Europa como no próprio Brasil como Plastique Noir, Scarlet Leaves e Das Projekt entre tantas outras. Mas foi no festival que Lucien sentiu o chamado para compor novamente, e ao chegar em sua casa, Nyx teve a inspiração do piano de "Love and Passion", o que levou Lucien a compor a melodia e os oturos instrumentos em questão de horas. Lucien ficou muito impressionado com a banda alemâ Das Ich e as brasileiras Das Projekt e Scarlet Leaves.

Vocês possuem uma forte influência de música tribal em seu primeiro álbum, o Les Fleurs des Mortis. Que outros sons vocês incorporam em suas músicas e quais seriam suas principais influencias/inspirações?

Podemos dizer que uma das nossas maiores inspirações é a fantástica “Dead Can Dance” que nos traz um pouco desses elementos tribais que você mencionou. Além disso, a alemã “Love is Colder Than Death”, a britânica “Death in June” e a mais atual “Angels of Liberty”, as francesas “Opera Multi Steel” e “Collection D’Arnell Andrea” e os italianos do “Kirlian Camera”. Mas é interessante perceber a nossa evolução nesses dois anos de banda: começamos de foma mais “analógica”,digamos assim, com bateria, baixo, guitarra e o piano e estamos nos encaminhando para uma tendência mais eletrônica fazendo mais uso dos sintetizadores. Nyx queria fazer gothic rock, por isso as duas primeiras músicas tem mais essa levada, baixo, batera... Death is Alive e Eternal Love tem uma granade influência de bandas como Angels of Liberty e Nosferatu. As últimas músicas já tem algo mais ethereal, mais teclados, ambiências.

Como vocês veem a cena gótica/ Darkwave no Brasil atualmente?
Nós dois vivemos os anos 80, o auge do movimento gótico e estávamos sintonizados em tudo o que rolava no meio underground da época. A partir dos anos 90 muitas bandas excelentes apareceram e continuamos em sintonia. Agora, no século XXI, parece que estamos redescobrindo a cena e nos reinventando de um jeito bastante interessante aqui no Brasil. Ficamos impressionados com a performances das bandas “Tempos de Morte”,“Poetisa Dissecada” e “Gangue Morcego, que nos chamaram bastante atenção neste Woodgothic, por exemplo. Temos artistas excelentes aqui na nossa terrinha, mas precisamos muito do apoio e reconhecimento do público para manter a cena sempre viva e sentimos isso com o pessoal que estava no festival. Uma interação bem legal entre o público e as bandas. Torcemos muito para o público aumentar e conhecer o nosso trabalho. Como diz o lema do festival: “Resistência Underground” sempre!!


Falem um pouco sobre o Les Fleurs des Morts e qual tem sido a resposta do público;
Esse é o nosso primeiro album e estamos muito felizes com a repercussão que está tendo. Estamos recebendo muitos elogios de pessoas que entendem bem do assunto e isso é uma grande honra para nós que estamos começando agora. A foto da capa e do
cd são do fotógrafo Lorenzo Bonincontro daqui de Santa Catarina e quando conhecemos o seu trabalho ficamos encantados pela beleza e mistério que as fotos passam. Pensamos na hora a mesma coisa: essas fotos tem tudo a ver com o Les Chats Noirs! Entramos em contato com Lorenzo e pedimos permissão para utilizá-las no nosso álbum. E assim se deu um casamento perfeito...rs
Sem a ajuda de algumas pessoas este cd não teria sido feito. O primeiro a acreditar na banda foi o produtor cultural Paulo de Almeida de Jaraguá do Sul em Santa Catarina, produtor do canal de youtube "Palco Local". Ele era fã da banda Tessália de Lucien e acabou escutando as músicas do Les Chats Noirs e divulgando para pessoas como o Zaf, que os convidou para o festival WoodGothic. Este foi um "turning point" na carreira 
da banda, que de repente teve suas músicas tocadas em rádio da Europa e convite para participar da coletânea "Temple of Souls" do selo Deepland Records. Com o lançamento do vídeo "Death is Alive" de produção do mesmo Paulo de Almeida, recebera o convite para lançar um cd pelo selo Wave Records. O show de lançamento foi no Madame Satã e logo depois tocaram no festival WoodGothic. A recepção tem sido muito gratificante, com novos fãs e mensagens diariamente.


Quais as novidades que a Les Chats Noirs tem para nós?
Bem, estamos lançando o nosso próximo clipe da música “Eternal Love” e já estamos pensando no próximo que será “Les Fleurs des Mortes”. Além disso, temos um projeto com a Companhia de Dança Obscure Fusion da coreógrafa e 
dançarina Gilmara Cruz, onde nós compomos músicas para as suas coreografias e isto é algo muito novo na cena e que está nos motivando bastante.
Bom, estas últimas músicas  já tem um formato mais eletrônico, etéreo e ao mesmo tempo a música "Les Fleurs des Morts" tem uma batida mais eletrônica. Já estamos trabalhando em novas músicas e acho que o formato vai ser esse, músicas para pista, com influências de bandas mais atuais como Lebanon Hanover e Sixth June, que também são casais que compõe
 
. A idéia inicial era formar uma banda mesmo, com outros músicos, mas este formato, um duo, é o que vai continuar.


Você pode adquirir o recomendadíssimo “Les Fleurs des Mortis”, que já é considerado um dos destaques do ano do Darkwave nacional através do site da Wave Records: waverecordsmusic.com

Página da banda no Facebook: https://web.facebook.com/leschatsnoirsbrasil/

MECHANICAL BAT ZINE

A versão física do nosso zine ainda não tem uma data certa para ser lançada, mas aos poucos vamos postando as matérias e entrevistas que conseguimos realizar ao longo de três meses de trabalho.
Confira a capa, criada por Go Lopes e editada por nós, aqui do blog.
Fiquem ligados, que em breve tem entrevista sendo postada aqui!