quinta-feira, 19 de julho de 2018

Entrevista: ALICE NIEDERAUER (DEMENTIA A)

Quando você frequenta a Subcultura Gótica, percebe que é um espaço muito devotado a mulher, e que elas, frequentemente são o centro do universo gótico. 
Confira agora uma entrevista exclusiva com ALICE NIEDERAUER, ou DEMENTIA A, como costuma ser lembrada, um exemplo de moça gótica que não se deixa intimidar e que ajudou a colocar Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, entre as cidades com a melhor qualidade de cena para ser frequentada.




1 – Primeiro, gostaria de agradecer imensamente a oportunidade concedida ao nosso zine em poder conhecer um pouco mais de sua história na cena dark. Conta pra nós, há quanto tempo você vive a cena gótica? Como passou à se identificar com a mesma?

Eu quem agradeço, John, pelo espaço para poder estar falando um pouquinho sobre meu trabalho.
Bom, tudo começou em 2001, quando um amigo me emprestou um VHS da coletâneav
 Beauty in Darkness Vol. 3, que além de bandas de gothic metal, continha o vídeo do The Sisters of Mercy – “Temple Of Love”. Na época, eu curtia thrash metal, mas imediatamente me apaixonei por aquele estilo de música. Eu não tinha acesso à internet, então entre visitas a lojas de discos, cyber cafés e utilização do computador de amigos, eu ia pesquisando mais sobre aquele gênero “gótico”. Graças a sites como o “Newgothz”, que jogavam tudo na mesma panela e divulgavam tanto o Gothic Metal quanto Darkwave, eu pude ser direcionada a conhecer este maravilhoso mundo novo (risos). Mais tarde encontrei alguns blogs específicos sobre música gótica e então fui aprendendo a separar as coisas.
Eu fiquei alguns anos sendo uma “gótica solitária”, ficava sozinha apreciando aquele som, não conhecia pessoas que curtissem o mesmo estilo que eu, nem tinha conhecimento sobre eventos.
Mas isso começou a mudar quando eu tive a ideia de formar uma banda. Fiz uns folhetinhos e saia distribuído para as pessoas em shows de metal mesmo (que era o que eu frequentava com meus amigos) “guitarrista procura músicos para formar banda gótica” (risos). Assim fiz alguns amigos, e comecei a ter acesso a informações sobre shows e eventos, mas a banda nunca deu certo...


2 – Como era a cena no Rio Grande do Sul quando você começou a frequentá-la?

Eu acredito que o primeiro evento ao qual eu fui, foi a Gothik Night na NEO, por volta de 2005 - 2006. É a festa mais antiga e persistente do RS, e sempre teve a proposta de ser um pouco mais popular, então lá não se ouvia apenas música gótica. Confesso que fiquei chocada ao escutar Cansei de Ser Sexy tocando na pista e ver pessoas rebolando até o chão ao som de Rammstein. Na época eu ouvia muito Dreadful Shadows, Love Like Blood, Paralysed Age e Nosferatu, e esperava que rolasse algo assim, o que não aconteceu. (Risos)
Mas além disso, havia a Dark City produzida pelo Paulo Momento, em Pelotas, com apresentações de bandas e DJs; e a Psychose, em Caxias do Sul, produzida pelo Nilo Sartori, que também contava com bandas e djs locais e nacionais. Sempre rolavam excursões de Porto Alegre para estas cidades. E em uma destas excursões conheci o Alequis Mekaniquis, que estava começando a desenhar o projeto Penumbra, uma festa voltada à musica industrial, EBM e vertentes. A partir da 3ª edição ele me convidou para discotecar. Eu tinha um bom conhecimento musical, mas não tinha a menor noção de discotecagem. Então nós íamos na casa do Ulisses Righi (coprodutor da Penumbra e membro da Euphorbia e atualmente Seraphim Shock) e eles me passavam as bases de como “apertar o play” (risos). Meu set destoava da proposta da festa, mas tinha um público que ia lá justamente para ouvi-lo. A Penumbra foi um sucesso desde o princípio, a partir de 2010 firmou-se no extinto Dr. Jekyll. E foi só então que eu comecei a frequentar mesmo a cena.


3 – Como e quando surgiu a ideia para criar a Gotik Treffen, que hoje é considerada uma das festas dark com a melhor qualidade do Brasil?!

Durante o período em que eu tocava na Penumbra, eu fazia a divulgação da festa na internet, e percebi que muitas pessoas não compareciam pois não tinham companhia. Então comecei a organizar Encontros Góticos, para que as pessoas se conhecessem, fizessem amizades e claro, participassem dos eventos com seus novos amigos (risos). Só que este público não ouvia apenas música eletrônica, que era o foco da Penumbra. Foi da carência deste público por uma festa que tivesse mais afinidade com seu gosto musical, que em 1º de Junho de 2012, surgiu a Gotik Treffen (encontro gótico, em alemão). Também tínhamos a proposta de fazer algo mais voltado a outras áreas da cultura. Tanto que na primeira edição, no antigo Garagem Hermética, abrimos o evento com um sarau literário. Mas não funcionou muito bem, porque a galera ficou dispersa (risos). As principais diretrizes da Gotik Treffen sempre foram ser fiel aos princípios musicais, promover a cultura e não permitir ou incentivar práticas sexistas. Acho que o amor, honestidade e dedicação com que ela sempre foi produzida, a tornaram tão especial. Tanto que certa vez, recebemos um visitante inglês que disse que na Inglaterra não haviam festas tão boas quanto a Gotik Treffen, com uma discotecagem tão aprofundada.
Sou muito grata porque sempre estive rodeada de pessoas incríveis, que fizeram parte desta história. Bárbara, Bonnie, Cyborg, e a Stephany que foi minha parceirona por muito tempo, emprenharam seus talentos, finanças e deram o sangue para fazer a festa acontecer. E nosso público realmente merecia isso. Nós acabamos fazendo parte da vida uns dos outros, passamos por diversos momentos juntos, com a festa como plano de fundo. Como um amigo escreveu recentemente “a história da Gotik Treffen é um pouco da história de todo mundo que a frequentava”.
Depois nós mudamos de casa, fomos para o Carlitu’s Bar, onde ficamos por mais tempo e crescemos muito. Mas alguns anos depois o bar fechou e pra não deixarmos de fazer a festa, vestimos ela com uma capinha do Dracula e uma máscara, mudamos o nome para “Soturna” e depois “Nocturne” (Risos). Eu fiquei um pouco insegura sobre “queimar o nome” da Gotik Treffen ao ir para um local menor, por isso o disfarce. Ao longo do tempo houveram muitas mudanças entre os DJs, o que mudou a sonoridade da festa, mas a essência permanece a mesma. Como eu mudei para São Paulo, hoje a festa está nas mãos da Ana, Bonnie, Cyborg e Willis, que estão continuando este trabalho.


4 - Você transita bastante entre as cenas de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Na sua opinião, quais são as principais diferenças entre ambas?

A principal diferença é certamente a quantidade de público, o que muda a dinâmica de como as pessoas lidam com a cena. Por exemplo, no RS nós meio que adotamos a política de boa vizinhança. Sempre tem pessoas com quem não concordamos com a visão ou atitudes, mas criar um embate seria prejudicial pra ambas as partes, porque isso acaba dividindo a galera, então geralmente nos apoiamos e toleramos (risos). Já em SP os embates são igualmente prejudiciais, mas o pessoal mete bala em quem achar que tem que meter, sem ter a preocupação de que isso possa acabar com a cena. Outra diferença gritante é o estilo de som preferido de forma geral... Em SP o público ainda é bem apegado à sonoridade dos anos 80, onde mesmo as bandas mais novas tem que ter uma pegada oitentista. Já no RS o pessoal é mais adepto à “Schwarze szene”, tendo preferência pela música eletrônica.

5 – Quais são as suas bandas favoritas?

É bem difícil responder esta pergunta, pois eu ouço muitas coisas mesmo! Principalmente gothic rock, darkwave e synthpop! Mas posso dizer que gosto muito dos trabalhos do Sven Friedrich – Dreadful Shadows, Zeraphine e Solar Fake, Rosetta Stone, Nosferatu, Pretentious Moi?, dos brasileiros do Ego Eris, e tenho ouvido com muita frequência Beborn Beton e Mondträume. Mas isso muda com frequência.


6 – Qual a sua opinião à respeito do atual modelo que vem sendo adotado por grandes festivais ditos “góticos” ao redor do mundo? Você acha válida a parceria entre festivais “alternativos” com corporações multinacionais?

Bom, eu não tenho propriedade pra falar sobre isso pois nunca fui a um festival fora do Brasil. Mas como produtora, eu acho válida sim toda tentativa de melhorar ou simplesmente conseguir fazer a coisa acontecer. Realmente eu não tenho os dados sobre número de frequentadores versus renda gerada nestes festivais, mas se fosse no caso do Brasil, isso seria não apenas válido como necessário, visto que o nosso público, mesmo que seja numeroso, ainda não é capaz de bancar eventos de grande porte apenas com venda de ingressos. Os góticos são em geral bem exigentes com a estrutura dos espaços que frequentam, mas muitos não querem ou não podem pagar os custos disso. Então sou mesmo tri a favor dos patrocínios, desde que não roubem a alma do evento.


7 – Você foi a primeira DJ a tocar na tradicional festa gótica “SoulShadow”, que ao longo de seus anos sempre apresentou DJs homens. Qual a sensação de ter representado as góticas nesse evento?

Obviamente que eu fiquei muito lisonjeada e feliz com o convite do Ivan, quando rolou. Ele é uma pessoa por quem eu tenho um carinho e respeito enormes! E pra mim é certamente um marco, de reconhecimento do meu bom trabalho.
Bom, eu vejo que de uma forma geral, aqui em São Paulo tem pouco espaço para mulheres na discotecagem. Eu mesma vi pouquíssimas vezes mulheres tocando em festas aqui. Acho que já passou da hora de mudar isso... que não precise de um dia especial pra botar as gurias a tocar como “discotecagem só de mulheres no dia da mulher”. Que haja discotecagem só de mulheres, sem ser algo “especial”, da mesma forma que tem discotecagens totalmente masculinas.


8 – Qual a sua opinião sobre os canais góticos que tem surgido no YouTube? E qual a sua opinião sobre a atual cena brasileira?

Eu tenho a impressão de que a grande maioria dos canais góticos do youtube sejam produzidos apenas para neófitos ou pessoas de fora da cena mesmo, visto que apresentam um conteúdo muito superficial a respeito de qualquer coisa. Grande parte são apenas copycats, exato mesmo tipo de conteúdo apresentado por pessoas diferentes, de qualquer parte do mundo! Não vejo originalidade... Falo em relação aos “tipos de pessoas que você encontra na balada gótica”, “tipos de danças góticas”, “arrume-se comigo”, “tour por minha coleção de qualquer coisa”, “como se arrumar pra ir à balada gótica”, e enfim... eu honestamente não costumo assistir aos canais góticos do Youtube, então não conheço muitos. Eu assisto quando tem alguma informação que eu considere interessante, ou alguns tutoriais legais. Por exemplo, assisto ao do Aurelio Voltaire, que dá umas dicas muito legais de decoração doméstica e tem um senso de humor que eu gosto, assisto ao teu e ao do Kipper eventualmente, assistia ao da Madie que era sobre cinema, mas acho que já saiu do ar e o Fantasticursos, que não é gótico mas tem umas mini aulinhas sobre literatura e cinema góticos. Mas enfim, tem todo tipo de conteúdo para os diversos interesses das pessoas. Os que eu não gosto realmente não assisto e fica tudo bem. (Risos)

Muitas pessoas dizem que a cena gótica está morta ou agonizante e eu não consigo concordar com isso. Eu vejo muitas coisas boas acontecendo, bandas maravilhosas surgindo, shows, eventos, tem encontros em diversas cidades, até aqui em São Paulo onde não era tão comum, e eu acho isso importantíssimo para agregar pessoas. Tem coisas acontecendo em cada canto do país! Tem eventos em Manaus, em Goiânia, tem em Recife, Minas, em Curitiba, Porto Alegre, Rio, no interior de São Paulo! O Gerôncio está abrindo um Centro Cultural Dark em Campina Grande, que vai inaugurar em agosto. O pessoal do Sebo Clepsidra tem lançado várias obras na própria editora. Tem a revista Gothic Station do Kipper, que é um material de qualidade profissional, que era pra estar sendo vendido nas bancas. O Paulo Renato está lançando uma Web TV: “Arcadia” (se não me engano), que vai trazer muita informação pra galera, com programa de entrevistas e apresentação de bandas, parece que vai haver uns programas sobre literatura e HQs também... Estamos presenciando o retorno dos zines impressos! Temos selos especializados, o Woodgothic bianualmente... Acho a nossa cena incrível, rica!


9 – Qual a maior dificuldade que existe, atualmente, diante da cena gótica no Brasil? O que, em sua opinião, é necessário fazer para melhorarmos o nosso espaço?

A maior dificuldade é que essa galera cheia de transtornos se entenda! Brincadeira. Acho que ainda é a falta de engajamento do público. Eu gostaria de ter esta resposta... sobre o que podemos fazer pra melhorar... Mas realmente não tenho. Sempre achei que faltasse união na nossa cena, apoio mútuo, sabe? Uns comparecendo aos eventos dos outros, membros de banda prestigiando apresentação de outras bandas, galera consumindo de quem produz arte, ou literatura ou materiais e acessórios mesmo... agora como estimular este comportamento no pessoal, eis a questão!


10 - Quais são seus planos para o futuro? Soube que você entrou para o time do Scarlet Leaves, você confirma isso?

Sim, é verdade. Fazia algum tempo que o Paulo Pwyka (tecladista) não estava conseguindo conciliar os compromissos do Scarlet Leaves com sua agenda pessoal. Tanto que no último show da banda, que foi em Porto Alegre, apresentaram-se apenas a Andreia e o Audret, que tocou guitarra e teclado. Então quando houve a decisão do afastamento do Paulo, o Audret achou que seria muito mais fácil encontrar outra pessoa para tocar guitarra do que outro tecladista... porque tu sabe... se chutar uma árvore caem três guitarristas (risos). Eu estava há mais ou menos 14 anos sem tocar, mas como eu comecei aprendendo a tocar thrash metal, adquiri uma certa habilidade, afinal é um estilo que exige bastante. Então o Audret me convidou para fazer um teste e parece que eu passei (risos). Isso foi algo muito feliz para mim, porque eu já conhecia e curtia o Scarlet Leaves, mas a primeira vez que os vi ao vivo, foi no Wave Summer Festival, e na minha opinião foi o melhor show do festival. Tanto que foi a partir dali que comecei a ter contato com o Audret, porque queria levá-los para tocar em Porto Alegre. E agora eu estou na banda! Claro que estou sentindo o peso da responsabilidade. Não acho que seja capaz de “substituir” o Audret, ou mesmo o Paulo como membro, pois ambos são multi-instrumentistas, são excelentes compositores, e eu estou recém recuperando a memória muscular. Mas espero não decepcionar os fãs, o que também me inclui.
Temos um show marcado em Olinda/PE, que será minha estreia e a gravação de um acústico, que deveria acontecer no segundo semestre deste ano, mas com mais mudanças na formação da banda, teve de ser adiado. Acredito que ainda saia no primeiro semestre de 2019.
Vou estar discotecando dia 29/09 em Araras no festival Decadance, para o qual estamos organizando excursão.
Mas meus planos a nível pessoal estão temporariamente adormecidos.


11 – Deixe um recado para os nossos leitores.

Primeiro quero te parabenizar, John, pelo trabalho que tens feito com o zine digital, levando informação para as pessoas.
Quero agradecer a quem teve interesse e leu até aqui (risos) num mundo dominado por memes e mensagens curtas, a leitura é rebeldia.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Entrevista: CINDERGARDEN

Durante os seus quase quarenta anos de existência, a Subcultura Gótica tem se tornado um escape e às vezes até mesmo um refúgio para seus frequentadores. Essa "casa feliz" se mostra um espaço cada vez maior e mais abrangente para diversos artistas colocarem pra fora o que está em suas mentes e coração. 
Com o projeto Cindergarden não seria diferente. Dos EUA, a fundadora do projeto Jayme Valentine nos conta, nesta entrevista inédita e complexa, como é ser uma artista independente no tempo da era digital, além das dificuldades de encontrar uma boa gravadora depois de ter sido recusada por nomes grandes da música, por ter sido rotulada como "dark demais" para ser comerciável. 
Confira agora!

Entrevista por: John von Butler
Tradução por: Lynn Sable Willmont





1- Primeiro,  eu gostaria de dizer que é um grande prazer poder entrevistar você e também obrigado pela oportunidade. Então, nós queremos saber: Como e quando Cindergarden surgiu? 
Eu estive envolvida com a criação de músicas de várias formas desde que eu era criança. Então, foi uma continuação do ofício em um ponto de virada onde eu comecei  a perceber o meu potencial no estúdio como a única força de produção criativa.  Antes disso, meu foco era tocar piano ao vivo como cantora e compositora solo. Meu pai também era baterista e compositor. Eu não fui criada por ele já que ele morreu quando eu era muito jovem, assim como minha mãe, que também era uma artista. A mudança real para Cindergarden aconteceu depois de 2002.  Antes disso, eu cantava  e tocava minhas próprias músicas no piano em shows ao vivo por algum tempo, ocasionalmente elas também eram gravadas e produzidas em estúdio por outras pessoas. Eu já escrevi centenas de músicas, muitas das quais nem foram publicadas ainda. Eu tinha de pouco para nenhum conhecimento de gravação profissional ou produção de áudio, nem imaginei que isso iria se tornar o trabalho da minha vida. Eu também estava em um contrato assinado de gerenciamento de artistas com um homem muito poderoso da indústria da música que mais tarde me contou, uma vez que eu comecei minha própria produção, que meu estilo era “muito dark” para o sucesso mainstream. Isso parecia irônico vindo da mesma gerência de marketing de Marilyn Manson, Black Sabbath, Rob Zombie, Korn e muitos outros artistas masculinos populares de grande sucesso que definitivamente seriam considerados “dark”.  Proprietários de gravadoras e A&R's da Sony, Capitol, Arista e alguns outros, literalmente, vieram ao meu apartamento, sentaram no meu sofá e me observaram performar na minha sala de estar. Eu lembro de ter sido instruída a comprar um vinho caro. Eles esperavam ao menos por uma imitação de Evanescence e admitiram que não tinham ideia de como me vender sem homens tocando guitarra ou fazendo rap perto de mim. Até hoje estou realmente perplexa com isso.  Avançando um pouco e até mesmo os rótulos menores  Gothic / Industrial como Trisol, Metropolis, Cleopatra e outros, me trataram de forma bem estranha. Um exemplo foi quando Trisol especificamente me procurou em 2009 querendo assinar comigo. Eu fiquei emocionada. Depois de me enviar vários e-mails iniciais me cortejando, eles misteriosamente mudaram de ideia. Eu fui desculpada e dita que eles não assinavam mais com artistas e claramente os assisti assinar com muitos outros através dos anos. Cleópatra me disse exatamente a mesma coisa e no entanto, eu vi até amigos muito próximos receberem ofertas de gravações deles. Eu sei que isso pode soar auto indulgente, mas nesse momento eu realmente me pergunto se eu fui colocada em uma lista negra simplesmente como resultado de ter conhecido as pessoas "poderosas" que conheci. Eu era ingênua e inconsciente de conceitos como os illuminati tempos atrás quando eu era vendedora de etiquetas, o que eu agora vejo como uma espécie de máfia da indústria musical, e sobre a qual me disseram em anos recentes para nunca falar sobre. De volta ao nascimento de Cindergarden mais especificamente... Houve uma tempestade se formando dentro de mim depois de lidar com algumas das decepções iniciais da indústria. Então, quando comecei a gravar completamente sozinha, não apenas estava aprimorando uma nova habilidade para expressar mais plenamente minha visão, mas também tive uma grande mudança de atitude. Um tom mais rebelde que deu lugar a uma artista naturalmente mais alinhada com as origens gothic-punk.  Eu tinha trabalhado com alguns produtores diferentes ao longo dos anos e encontrar grandes produtores que acreditavam em mim e tornariam minhas visões musicais verdadeiras tinham sido honestamente um objetivo desde que eu era uma adolescente. Isso nunca saiu do jeito que eu esperava no final. Minha escrita mudou uma vez que encontrei uma nova liberdade criativa durante a gravação, sendo capaz de pressionar para parar e gravar sempre que eu quisesse. Como tudo acabou dessa forma, eu definitivamente parei para fazer minha própria produção estilizada. Eu decidi chamá-lo de Cindergarden, depois de ter um debate com um amigo e, em seguida, fazer um passeio sozinha em um solo de cogumelos na chuva. A chuva parecia como uma brasa, era um sinal. 



2- O álbum de estréia, "Underground Light Machine" de 2006, teve uma excelente recepção na cena eletrônica alternativa, assim como na cena gótica / darkwave. Você foi comparada a grandes artistas nessas cenas, incluindo o Skinny Puppy e  Switchblade Symphony. Como foi o processo de criação deste álbum? 

Então, como eu mencionei, eu tinha sido muito decepcionada pela indústria da música e ainda estava em choque com isso. O conteúdo desse álbum não era necessariamente sobre nada disso. Mas as condições para me expressar da maneira que fiz estavam agora presentes. Comecei a brincar com o vidro quebrado da minha vida, tanto figurativamente quanto literalmente, já que algumas das primeiras músicas que experimentei usando uma estação de trabalho de áudio digital me levaram a gravação de vidros quebrando e distorção de sons. Eu estava me sentindo tão inspirada para mergulhar em minha própria loucura artística que nem percebi que uma repressão na minha música havia se formado, mas eu sabia que estava deixando aquilo ir embora completamente naquele momento. Eu estava me sentindo sem limites e confiei em mim como artista novamente. Eu estava ouvindo muito Skinny Puppy, Penal Colony, Bauhaus, Siouxsie, Ministry, The Cure e muito mais naquela época também. Eu precisava recuar.. havia todo esse outro corpo de trabalho que criei poucos meses depois de ter sido abandonada do meu contrato de gerenciamento de artistas, mas logo antes eu  comecei a explorar a DAW (digital audio workstation\estação de trabalho de áudio digital) para mim mesma. Eu gravei uma faixa analógica de quatro músicas no meu piano, junto com um Juno-160 e uma velha bateria eletrônica. Eu dei o nome para essas canções de Red Wine Sessions na época porque eu escrevi e gravei 17 músicas ao mesmo tempo em um fim de semana com pouco para nenhum sono, enquanto fumava e bebia bastante vinho (uma das músicas é chamada 'Letting Go') . Muito em breve eu estarei lançando este álbum / coleção de músicas para  o público pela primeira vez. Eu fui inspirada a passar os últimos dois anos re-gravando e eletronicamente re-produzindo-os no estúdio (junto com alguns outros álbuns) porque eu acho que são ótimas músicas que também merecem ser polidas do jeito que eu pensava eles seriam. Vai ser chamado de "Revamped". Eu pretendo disponibilizar as antigas versões de quatro faixas também, porque elas têm seu próprio charme que não poderia ser replicado. Pela época em que criei o Underground Light Machine, eu tinha ficado totalmente digital. Eu nem usei meu piano de verdade na gravação, embora ainda tivesse um na época. Eu usei um teclado midi de tamanho e peso grande. Eu estava no estúdio todos os dias por algumas horas por alguns meses e isso simplesmente aconteceu. Foi apenas uma nova coleção de canções vindas do coração porém dessa vez era algo maior do que isso. Por que foi meu primeiro verdadeiro disco a ser lançado. Eu realmente tinha decidido que eu estava farta de esperar que alguém ajudasse minhas visões a se tornarem realidade ... então eu arquivei uma licença de marca comercial para a Looking Glass Records.



3- "Grim Confections" de 2010, tem um certo ar mais enérgico que os álbuns anteriores. Havia algo diferente no processo de criação deste disco comparado aos outros dois?
Na verdade, foi muito mais semelhante ao meu segundo disco, "The Clandestine Experiment", em termos de processo. Embora o conceito fosse completamente diferente tecnicamente e musicalmente. O que quero dizer é que o primeiro disco "Underground Light Machine" foi minha primeira tentativa de fazer e lançar um álbum profissional por conta própria. Eu acho que eu estava apenas muito animada para isso acontecer. Pelo próximo disco, eu tinha algo em mente, então estava pronta para fazer algo intencionalmente conceitual e épico. Eu queria que fosse meu "magnum opus" (grande trabalho). Para ser junta, na época era! Eu recentemente o ouvi do começo ao fim pela primeira vez em muitos anos. Esse álbum não é brincadeira! Eu queria usar meu tempo no estúdio de forma mais dramática.  Eu não estava interessada em apenas estabelecer idéias independentes, mas realmente desenvolvê-las como um corpo coeso, então eu criei uma narrativa e uma atmosfera detalhada ao longo de algumas semanas / meses enquanto eu começava a estabelecer faixas.  Musicalmente meu foco com o "The Clandestine Experiment" era uma arrojada borda experimental com muitas camadas de operação dark e passagens sinfônicas. A narrativa estava foi feita com várias camadas... pegando muito de histórias de monstros clássicos, especialmente Frankeinstein (embora soe muito no reido do Vampíro\Drácula). Havia sempre um monte de pássaros do lado de fora da janela do meu estúdio e eu amava os sons que eles faziam, então decidi dar a eles um papel de protagonista único. Eu testei muito deles e o "Frankenbird" tornou-se uma espécie de mascote para o álbum que foi incluído na seção de letras do álbum na arte original. Eu tomei uma abordagem semelhante ao "Grim Confections", só que eu tinha um conceito totalmente diferente em mente. Na época deste álbum, eu me tornei mais influenciado por músicas eletrônicas muito técnicas, como breakcore e IDM. Então eu passei muito tempo detalhando minhas batidas. Também foi psicodélico com uma ou duas viradas doces. Foi um processo muito visual para mim. Eu estava desenhando e pintando muitas das minhas idéias na época. Eu talvez publique esses depois de alguma forma. Mesmo que eu nunca tenha usado minha própria arte no álbum, eu usei minhas próprias fontes desenhadas a mão e títulos na arte do álbum e no site na época. Era para ser um álbum mais brincalhão, então permiti que minha criança interior se expressasse mais.


4. Diga-nos quais são suas principais influências quando se trata de criar (e continuar) o universo Cindergarden.
Musicalmente, eu estou realmente por todo lugar e sempre estive. Eu fui estimulada por muitos gêneros e muitos artistas durante os anos. Atualmente, gosto mais do silêncio do que nunca e prefiro o que evoca um clima misteriosamente sublime, mas adoro todos os gêneros musicais. No momento estou ouvindo uma música pop  turca obscura do Camboja que um amigo me apresentou, mas também um pouco de black metal e eletrônica. Existe uma alegria viciante no processo artístico. Eu recebo uma faísca criativa, seguida de excitação com o pensamento de ser musicalmente inteligente. Uma vez que penso que estou gostando de algo, é minha missão completa-lo e fazê-lo bem. Isso está entranhado na minha infância. Uma motivação profunda e duradoura para me alinhar com a identidade  de ser um canal criativo. Geralmente, eu gosto de fazer isso. Ultimamente  tem me dado estresse também. É uma coisa emocionante agora na minha vida já que eu tenho tanto para expressar além de outras coisas para fazer. Eu abri uma especie de comporta e fico com ansiedade sobre não ter tempo o suficiente para despejar tudo isso de dentro de mim. Eu percebo que é uma ilusão, mas uma da qual eu fui vítima. Isso está trazendo uma experiência recente para mim de quando tive que lidar com um perseguidor que alegava ser um fã. Ele continuou me cobrando energeticamente, essencialmente exigindo que eu terminasse um trabalho sobre o qual ele estava pessoalmente empolgado e isso aumentava meu estresse crônico. Eu tive que bani-lo dos grupos e páginas do Cindergarden. Tipo, eu não preciso de ninguém me cobrando e me pressionando para terminar meu trabalho, então talvez seja melhor para a arte que eu controle meu próprio processo. Acredite em mim, eu já me cobro o bastante. Ficará pronto quando for possível ser terminado. Eu odeio admitir isso, mas o comportamento dessa pessoa provavelmente teve um efeito adverso. "Desculpe, eu não estou fazendo o álbum especificamente para você!" Eu fiquei querendo dizer ... mas não queria ferir os sentimentos de ninguém, embora sua grosseria tivesse continuado. As pessoas geralmente me escrevem para expressar gratidão e eu ainda não identifiquei a diferença. 


Lunar Phases, de 2012.
5 - "Lunar Phases: The Winter Solstice EP" fez as pessoas finalmente conhecerem o rosto por trás dos vocais às vezes angelicais, às vezes obscuros. O vídeo, além de ter uma produção de excelente qualidade, inspirou uma peça de dança do renomado dançarino Nefru Merit. Além de ser muito popular em um festival de culto a lua na Ucrânia, como foi dar um passo tão grande como este? Houve mais visibilidade do projeto depois que o vídeo foi lançado?

Minha vida pessoal tomou viradas selvagens rapidamente depois deste video ter sido lançado. Um canal de TV Alemã queria transmiti-lo mas infelizmente eu desisti. Tinha muita burocracia envolvida e eu não recebi toda a papelada a tempo. Meu avô estava muito doente e morrendo também e eu estava me distraindo de maneiras que agora parecem absurdas na melhor das hipóteses. Eu passei os próximos anos encontrando uma mistura de pesadelos pessoais traumáticos. 


6- O que você poderia nos dizer sobre o último álbum, "Architectures of the Becoming"?
O álbum é um mapa através de uma viagem muito traumática e espiritual na forma de um disco duplo. Eu estava planejando esse álbum antes de qualquer um dos eventos referenciados acontecer na minha vida. É arrepiante ler meu diário datado de 2011, quando comecei a desenvolver idéias conceituais iniciais (Lunar Phases originalmente pertenceria a ele, mas acabou obtendo seu próprio EP), porque ele pode ser visto como algo levemente profético sobre o que iria ocorrer em minha vida. Eu realmente senti o trauma principal vindo de antemão, então acho que subconscientemente entendi onde isso poderia me levar emocionalmente e as conseqüências de ter que processar isso. De um modo, o álbum foi um milagre para mim. Eu essencialmente morri e voltei durante o seu progresso. Duas vezes.


7- No Brasil, algumas pessoas da cena gótica estão descontentes com a direção que a Wave Gotik Treffen está tomando. Alguns acreditam que o evento perdeu a essência do underground e hoje se assemelha mais a um festival de moda do que a um festival gótico. O que você, sendo um artista independente neste vasto universo underground, pensa sobre isso?
Para ser justa, nunca participei desse evento em particular (e gostaria em algum momento), então só posso falar em termos gerais. A cena gótica, em geral, agora é como o mainstream. Então com isso você terá muitos problemas semelhantes com maquiagens ligeiramente diferentes. Cultura underground é só isso. Underground. Se pode ser facilmente visto e participado pelas massas, não é mais o verdadeiro underground. Então, esperamos que aqueles que buscam isso cavem muito mais fundo. Há muita cultura underground bonita lá fora com coração, alma e coragem. E se alguém não consegue acha-la perto de si, deve cria-la. Dito isso, eu na verdade aprecio pessoas se vestindo para se tornarem o mais impressionante possível. É outra forma de expressão e com a intenção correta pode ser uma forma de honrar a própria divindade. É claro que é triste ver o coração de algo sendo extinto por puro ego narcisista. A intenção é significativa. 



8- Sua música é designada por termos que não são muito conhecidos nem difundidos no Brasil, como CrystalGothPost-Darkwave e Ethereal-Industrial. Você poderia nos dar uma breve explicação de alguns desses termos?
Esses termos foram concebidos como a maneira mais simples de descrever o som do meu mais novo álbum e são bem auto-explicativos. Eu acho que eu mesma inventei. Quando me pedem para descrever minha música, tenho dificuldade em dizer qualquer coisa que já exista, mas quando estou conversando com normas diversas em público, às vezes sou preguiçosa e apenas digo “gótico”, o que nem começa a dar uma impressão apropriada. Eu acho que cunhei o termo "trip-goth" em 2006 pelo mesmo motivo.



9- "Rainbow's End" é a minha canção favorita de todas. Sobre o que essa música fala em contexto geral?
Boa escolha, obrigada. Ela envolve todo o conceito do álbum (que, esperamos, será apresentado como uma ópera rock inteira algum dia). O tema do álbum em geral é que “nada é o que parece”. Foi inspirado por muitas coisas, incluindo as pinturas de Mark Ryden, e eu me esforcei para criar uma nostalgia distorcida pela qual ele é bem conhecido. A narrativa nos leva através de um país das maravilhas colorido, mas distorcido. As distorções são reveladas em cada música. No final do arco-íris é a desilusão final. A música é simplesmente sobre o momento da descoberta ou mesmo estar no limite da descoberta. É também um momento de ironia. É doloroso, não importa ao que se refere em particular. A morte de entes queridos ou até mesmo de onde vêm os hambúrgueres. Quando somos pequenos, muitas vezes somos poupados dos detalhes sangrentos da vida, apenas para descobri-los algum tempo depois ... às vezes mais cedo. Independentemente disso, em retrospectiva, nossa nostalgia tem uma sensação distorcida. Não foi o que pensamos que foi, mas é disso que nos lembramos. E nós ainda estamos falando sobre arco-íris. Nós ainda estamos nos segurando em algo ilusório e doce. Eu acho que é um elemento importante do álbum e a coisa que eu mais gosto nessa música, isso transmite particularmente uma inocência ao mesmo tempo em que reconhece sua oposição direta…. a desgraça dos juízos nos encarando bem na cara.



10- Conte-nos um pouco mais sobre o seu trabalho como atriz;

Eu amo essa experiência, especialmente quando assisto ao filme e vejo como tudo se juntou. Foi meio que um processo brutal para mim enquanto estava acontecendo para ser honesta. Meu PTSD (Post Traumatic Stress Disorder/Transtorno de Estresse Pós-Traumático) foi acionado em muitos níveis, mas nessa nota era realmente apropriado para o personagem que eu estava fazendo. Eu tive que ter um elenco completo feito da minha cabeça e não tinha ideia do que isso implicaria até que fosse tarde demais. Eu costumava trabalhar em um armazém público de fabricação de arte e fazíamos moldes e fundidos diariamente, mas nunca em pessoas reais. Nós sempre fizemos metade de uma cabeça de espuma na hora, então eu presumi erroneamente que seria um processo similar ou mais suave. Foi toda a minha cabeça de uma vez e senti como se tivesse sendo mumificada e enterrada viva. Eu percebi que posso ficar claustrofóbica neste cenário. Isso foi antes mesmo de começarmos a filmar, é claro, e somente a ponta do iceberg. Eu tinha passado por tantos anos antes de filmar este filme que é muito legal eles me pedirem para fazer parte disso e eu sou muito grata. Eu fiz muita atuação enquanto crescia, (comunidade e faculdade de teatro) quando criança. Eu tinha muito foco para alguém tão jovem e era decente em expressar certas emoções principalmente porque eu já tinha que experimentá-las.



11- Alguma change de Cindergarden vir até o Brasil? Talvez esse ano?  
Sempre existe uma chance. Eu costumo esperar até que alguém me procure para fazer um show. Eu só estou brincando quando digo que a melhor aposta é começar a reservar shows para mim e ver como eu me esforço para me materializar lá. Eu nem deveria dizer isso. Eu preciso um tempo para terminar a pós-produção do álbum "Revamped", também de outro álbum de homenagem ao Leonard Cohen, o "To the End of Love" e de alguns outros. Mas depois disso, quero começar a tocar mais de novo.



12- Quais são as novidades que teremos no futuro?
Há tantas coisas na fila agora para lançamento. Eu quero colocar tudo o que tenho trabalhado por tanto tempo no mundo o mais rápido possível. Eu tenho outras idéias que estão doendo para aparecer também e eu não posso nem chegar até elas sem limpar algum espaço de trabalho primeiro. O álbum de tributo a Cohen pode ser pré-encomendado na página da Looking Glass Records Bandcamp agora, já que estou tentando fazer com que ele seja lançado primeiro e espero que alguns vídeos de música o acompanhem. Muito obrigada pela sua entrevista reflexiva!


Você pode conferir todas as novidades, encomendar produtos e falar com a Jayme através do site da banda: https://cindergarden.com/  












quinta-feira, 5 de julho de 2018

Noturna Régia: Gothic Rock de Excelência

A música é o que move as massas. Dentro da Subcultura Gótica não poderia ser diferente. A música é o principal pilar, a espinha dorsal que sustenta a nossa cena há praticamente quatro décadas. 
No Brasil, há uma cena muito viva, com muitas bandas de qualidade e em plena atividade. Infelizmente, isso tem ficado em segundo plano, por conta da aparição de centenas de canais no YouTube voltados para estética apenas. 
Entretanto, aqui no Mechanical Bat damos prioridade para música e apoiamos, na medida do possível, nossas bandas locais. 
Conheça agora a história da banda Noturna Régia, que com dois discos lançados até o presente momento, conquista os mais variados e trevosos corações.

A Noturna Régia surgiu em meados de 2011 no cenário Dark/Gótico da cidade de Campina Grande na Paraíba, cenário esse bastante influente no Nordeste.
A banda teve seu primeiro esboço precisamente no dia 16 de agosto do decorrente ano, reunindo ideias e pessoas comprometidas com a cena local, como é o caso do Rodolfo Tietre (Guitarras) que possuiu um importante papel em seus projetos anteriores. Também fazem parte atualmente do elenco da Noturna Régia:  Thiago Macedo (Contrabaixo), que também possui projetos musicais que envolvem outras sonoridades contidas no Underground e Daniel D.vill (Vocais) ativista da cena gótica local desde 2002, artista plástico e poeta. Além da Miss Phantom II (Máquina de Programação). Passando por algumas mudanças na formação do seu elenco, desde a criação das primeiras composições até a atualidade, a Noturna contou com a importante participação do guitarrista e programador Valdênio Solfieri no período de 16/08/2011 à 01/09/2017. Atualmente como um trio prezamos por sonoridades em sua maioria próximas do Darkwave e Gothic Rock. Nossas principais influencias musicais são os grandes nomes da subcultura gótica nacional e mundial, em especial bandas da nostálgica década de 80.

Com letras autorais, cantadas em português apresentando um repertório bastante variado, a Noturna inicialmente vem abordando temas como: criaturas mitológicas, cotidiano numa visão sombria, sentimentos intensos, sexualidade entre outros. Uma das suas principais características são refrões fortes fundidos num som cadenciado e sinistro.

"A Rainha da Noite " um dos muitos significados dessa nomenclatura... lançou o seu primeiro registro com 4 faixas e um EP com 3 faixas autorais da mais legitima musicalidade Dark/Gótica divulgando , assim toda sua majestade sombria para aqueles que clamam por boas musicas, selando assim um compromisso para com seu publico.

Elenco atual da Noturna Régia :

Daniel D.vill......................Vocais
Thiago Macedo.................Contrabaixo
Rodolfo Tietre...................Guitarras
Miss Phantom..................Máquina de Programação

Você pode conferir por onde anda a banda e suas atividades na página oficial do Facebook. Clique AQUI.

Apoie sua cena local, prestigiando as bandas e comparecendo à shows, e na medida do possível, adquirindo seus materiais. Não é nada fácil ser um artista underground num país como o Brasil, onde a cena alternativa encontra uma resistência gigantesca por parte dos veículos de comunicação. 
Apoie a banda local com a mesma energia que apoia projetos estrangeiros. Carpe noctem!

terça-feira, 3 de julho de 2018

DecaDance: agito dark no interior de São Paulo

São Paulo, além de ser o polo industrial e a maior metrópole do nosso país, é também o lugar onde mais se encontra variedade de eventos voltados para o público alternativo dark; A cena paulistana é repleta de casas e eventos que abordam a estética dark. Contudo, poucos são os eventos que se aprofundam realmente na Subcultura Gótica, com o intuito de levar algo muito além de uma balada. 
Conversamos com Lucius Williams, um dos criadores do projeto DecaDance, que nos últimos tempos tem agitado o interior do estado com shows e performances extraordinários. 
Conheça agora um pouco mais sobre o projeto DecaDance.

Decadance é um projeto de arte e cultura PostPunk/Goth idealizado por Lucius e Rodrigo de Araújo. A ideia tomou forma quando Rodrigo firmou seu relacionamento afetivo e se mudou para o interior de São Paulo, na cidade de Araras; assim conheceu Lucius, através da mútua paixão por Christian Death e Rozz Williams. Após longos períodos de conversa, os rapazes decidiram criar um evento onde pudessem discotecar todos aqueles sons que discutiam e compartilhavam e alem disso dar um novo rumo a cena de festas góticas no estado de São Paulo, priorizando a bandas nacionais, exposições e apresentações artísticas com o intuito de manter o "Trad Goth" nos eventos como foco principal da discotecagem. DecaDance é um evento especifico do gótico tradicional, sendo assim as discotecagens baseiam-se em PostPunk, Darkwave, Coldwave, Synth e Deathrock. Nossa proposta é manter as raízes e trazer as vertentes tradicionais para a pista de dança, mostrando que a sonoridade tida como gótica não se baseia  redutivamente em elementos industriais, eletrônicos e até mesmo de metal como se tem difundido ultimamente. Lucius e ROD intencionam mostrar que o estilo "Trad. Goth" ainda existe e continua em produção ativa, tanto na cena nacional quanto internacional, cumprindo o papel de manter a originalidade do gótico no circuito de festas do estado de São Paulo. 
Lucius, DJ residente e um dos
idealizadores do projeto.

Levando em consideração a "originalidade do gótico" o evento tem um cuidado especial com a poética, desde as artes de divulgação até as exposições e apresentações são baseadas na essência artística do Goth. Também levamos a missão de descentralizar a cena de eventos, onde sempre acontece com os mesmos DJs nos mesmos lugares trazendo a tendência da repetição. Visando dar oportunidades a novas bandas,DJs e artistas mostrarem seu trabalho dentro da subcultura gótica o evento promove assim uma união entre público, artistas e produtores. A Decadance não é um evento que tem finalidade lucrativa, entretanto não é um evento gratuito pois existe um certo custo para que tudo aconteça, todos os artistas e DJs se apresentam com uma intenção cultural de acrescentar sua mensagem e atitude na subcultura gótica, divulgando seu trabalho artístico na cena, sendo assim o caráter artístico-cultural é o elemento motivador do evento tendo o apoio significativo e contínuo do público e de todos os artistas participantes em cada edição, ressaltando que o evento é decerto fomentado por um núcleo coletivo.
A casa de eventos do Sinistro Motoclube tem sediado o evento Decadance oferecendo conforto e comodidade para o público além de um preço justo nas bebidas com drinks de qualidade e uma localização propícia para o público intermunicipal situando-se à 400 metros da rodoviária municipal; alem disso, o evento oferece excursões para o público saindo de São Paulo e Campinas com ótimos preços para reunir o público gótico e simpatizante da cena paulista da capital e região do interior.


Confira à seguir, a programação da próxima edição da DecaDance, que deve ocorrer no dia 29 de Setembro.

Para animar a festa, teremos os DJs residentes da festa Lucius e ROD, além dos convidados Lunar, Kei, a gaúcha responsável pelas melhores festas góticas de Porto Alegre, Alice Niederauer (Gotik Treffen, Nocturne), e o já experiente Zauber, sempre à frente do Via Underground.

A Poetisa Dissecada também estará
tocando na festa.
Esta edição contará com shows das bandas 1983 (Minimal Wave/ Post-Punk, SP), Ballet Clandestino (Punk/ Post-Punk, SP), Dead Roses Garden (Deathrock, SP) e com o show dos amigos aqui do zine, a Poetisa Dissecada (Deathrock, MG). 

Haverá ainda uma exposição de artes visuais e cênicas com a Delacroix (esculturas e acessórios), Lunar Camel Art (Realismo Obscuro), Galesco (pintura decadentista) e Lucius (expressionismo cubista). Lucius ficará ainda responsável pela apresentação de Butoh Senses, ao passo em que Scarlate Lioness se responsabilizará por pirofagia e dança tribal. 

Além disso tudo, terá banca e feira, com distribuição dos zines Última Quimera e The Gothic Society, banca de patches da Ratuêra, banca de camisetas (Sistermoon), banca de pinturas e ilustrações da amiga Carmina Usher, prints e colagens de Exquis, além de CDs e mídia pela cDissonância Magnética

Não deixe de prestigiar esse evento que está repleto de atrações, com todos os ingredientes para ser a melhor noite goth do ano! Para maiores informações sobre o evento, tais como transporte, endereço, etc, clique AQUI.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Entrevista: Sad Fayence

Viver na Subcultura Gótica quer dizer conhecer novas pessoas, fazer amizades, colaborar com projetos dentre muitas outras coisas.
Tivemos a oportunidade de conversar com o DJ, produtor, autor de zines e amigo Sad Fayence, ou também conhecido como Freon Heart. Neste bate-papo exclusivo, vamos saber um pouco dos primórdios anos góticos do belo rapaz, além de sua opinião sobre diversos assuntos polêmicos.

Confira!




1- Primeiro, gostaria de agradecer a oportunidade concedida aos nossos leitores para te conhecer um pouco melhor. Então, conte para nós quando e como você esbarrou na cena gótica/darkwave e quando começou a se identificar com ela:
Eu que agradeço, John!
Bom, meu primeiro contato com a cena gótica foi na primeira metade dos anos 2000, através de amigos do bairro. A identificação foi natural e quase que instantânea! Antes disso eu frequentava a cena indie. Nas baladas que eu ia também tocavam bandas como The Cure, Joy Division, Sioux e outros nomes básicos do Post Punk. Então, de alguma forma, eu já tinha um conhecimento superficial acerca do que constituía esse universo. Mas foi só depois que comecei a frequentar casas exclusivamente góticas que as coisas foram ficando mais claras (ou escuras hehe).

2- Como você definiria a sua estética?

Polêmicas a parte, sou um Trad Goth hahaha...
Tenho mesmo uma especial predileção pelo chamado “Early Goth”, a estética da
Batcave e todo o conceito que se desenvolveu em torno disso.


3- Sabemos que durante sua trajetória, você foi DJ de alguns eventos importantes. Conte para nós um pouco a respeito disso.

A primeira vez que toquei foi na After Dark, em 2006. Foi puro acaso. Estava indo com frequência na casa às sextas feiras e muitas vezes só tinha eu e alguns amigos lá dentro. Em algumas noites realmente nem DJ tinha! Deixavam um CD tocando e pronto. Foi ai que junto com um amigo assumi a função em algumas noites.
Em 2007, fui convidado pelo Kipper para discotecar no Projeto Gotham City, na Fofinho. Foram cinco ou seis edições. No final do mesmo ano, também toquei no Aeroflith – casa na qual mantive proximidade (mesmo com idas e vindas) até o seu encerramento em 2016.
Em 2008, fui residente do BlackOut, uma casa gótica que funcionou no bairro da Parada Inglesa. A partir de então, fui DJ convidado em outras tantas festas e casas: Dr Phibes, Via Underground, Confraria São Pedro, Luxuria, Madame...
Mas nunca encarei isso como uma profissão ou como fonte de “status”. Pra mim é diversão, hobbie, paixão. Fico contente em ter participado de tantas coisas legais, independente se foi como DJ, produtor ou público.

4- A Perky-Goth Party entrou num hiato há três anos, e este foi um evento que introduziu muita gente nova na cena ao longo de seus três anos de existência (2012-2015). Conte para nossos leitores um pouco sobre esse projeto; Podemos nutrir esperança para alguma nova festa no futuro?

A Perky também nasceu sem pretensão nenhuma. Tínhamos a ideia de fazer festas temáticas, alguém sugeriu o “tema” Perky Goth e resolvi fazer. Realmente, muita gente teve seu primeiro contato com a cena gótica (e até mesmo com a noite!) através da Perky. Jovens da cena Visual Kei e Lolita frequentavam porque a festa também abria espaço para bandas japonesas. A festa acabou se tornando eclética, expandiu seus horizontes, mas com honestidade e o esforço de se manter coerente. Acho que foi uma troca legal de experiencias.
O sucesso da Perky me fez arriscar produzir alguns shows internacionais maiores. Precipitado e vítima da má-fé de alguns, cometi alguns erros e descobri da pior forma possível as dificuldades de atuar nesse ramo de promover shows.
Mas não descarto uma volta, gosto muito de revivais haha...



5- Qual a sua opinião sobre o atual modelo da Wave Gotik Treffen?

As vezes me parece que o evento se descaracterizou um pouco, seja pelas atrações, seja pelo público. Mas, por outro lado, eu também entendo que “ampliar o leque” talvez seja a única maneira de manter um evento desse porte viável. Tenho essas observações críticas, mas também reconheço a importância e a grandeza do evento para a cena gótica mundial. Existem outros festivais que eu gostaria de conhecer mas, se tivesse a oportunidade, com certeza também visitaria a WGT.


6- Nos conhecemos há provavelmente seis ou sete anos atrás. De lá pra cá, quais foram as mudanças que você percebeu na cena?

É pouco tempo para analisar grandes mudanças, mas algumas coisas são evidentes. Por exemplo, nesse meio tempo as últimas casas alternativas exclusivamente góticas foram fechadas (Atmosphere e Aeroflith). Ainda tem o Madame, que mantem sua relevância, mas é um caso a parte. As redes sociais também ganharam mais força nesse período e explodiu o fenômeno dos vlogs do youtube. Acho que essas coisas já permitem uma reflexão acerca de alguns temas, principalmente no que diz respeito a identidade e a relevância das subculturas hoje, que me parecem cada vez mais corroídas pela cultura de consumo e descarte e esvaziadas pela fugacidade de interesses.



7- Conte-nos um pouco sobre o seu zine, o Última Quimera.

Eu sentia falta dos fórum e comunidades que permitiam uma troca de ideias mais ampla sobre assuntos que nos interessam. Me parece que isso foi perdido no modelo do Facebook, Youtube e, nem preciso dizer, do Instagram. Além disso, tem essa coisa de reviver uma publicação impressa, que circule de mão em mão, que permita um contato presencial. Particularmente, não gosto de ler online, pelo computador ou celular, prefiro os impressos, acho mais prático.
O Ultima Quimera nasceu do desejo de discutir a subcultura, refletir sobre as novas formas de entendimento e participação na cena. E também de resgatar memorias, compor a história da nossa cena. Tenho tido um interesse especial em estudar a história do gótico no Brasil.Eu já vinha planejando o zine desde pelo menos 2016, e em 2017 finalmente consegui produzir. No fim, foi interessante notar que o zine emergiu em consonância com outras publicações como o zine Ghosts of Diodati e a revista Gothic Station. Acho que era uma tendência o resgate dessa linguagem.

Já lançamos três edições e penso em produzir o numero quatro logo menos. 


8- Como e quando surgiu a ideia para montar um time de futebol formado por góticos, o Real Gothic Brasil? Como tem sido explorar um território até então novo por grande parte do público gótico?

Meu interesse por esporte, especialmente o futebol, me acompanha desde cedo. E não deixei de gostar quando me identifiquei como gótico (ok, posso ter deixado de praticar um pouco rsrs...).
Temos que tomar cuidado porque as vezes nos apegamos a estereótipos que podem nos auto-boicotar: a figura do gótico moribundo, alérgico ao sol, esbanjando um lirismo pedante etc...
O time também surgiu sem nenhuma pretensão. Em 2009, um pessoal de São Paulo organizou um jogo entre Góticos X Death Rockers. Foi tudo uma brincadeira, mas a partir de então percebi que outras pessoas da cena tinham interesse em jogar mais vezes. É aquela coisa, muitos de nós acabam se afastando do esporte já na fase da escola, seja por bullying, preconceito ou pelo excesso de competitividade que impera no ensino.
Percebi que criar um time com pessoas que viviam a mesma cena e compartilhavam os mesmos interesses poderia ser um caminho para aproximar e deixar mais a vontade uma galera que tinha vontade em jogar mas, de alguma forma, sofria ou se incomodava com essas questões.
Em 2012, conheci o Real Gothic, um time inglês formado por góticos que jogava durante o festival Whitby Goth Weekend (com a renda do jogo revertida para a fundação Sophie Lancaster). Foi o incentivo que faltava. Em outro continente, tinham góticos que também curtiam futebol. E assim nasceu o Real Gothic Brasil.
Na maior parte das vezes, somos incentivados, mas já houve quem se incomodasse e questionasse, mas eu até acho válido, não tenho problema em “me explicar” haha.
Costumo dizer que um gótico jogar futebol não prejudica sua identidade, pelo contrário, reafirma isso! 


9- Qual sua opinião sobre a atual cena no Brasil?

Eu não vejo uma situação tão crítica como alguns apontam. Claro que sempre pode melhorar! Já tivemos bons festivais, como a Thorns (esse mais “eclético”), o Wave Summer/Winter e o próprio Woodgothic, mas parece que sempre falta adesão. Mas eu acho arriscado cravar os motivos que prejudicam a cena. Tem muitas nuances nisso, desde a situação econômica do país até mesmo a queda de interesses duradouros nas subculturas em tempos de identidades fluídas. As vezes a saída mais fácil é apontar um “culpado” ou um “inimigo” em comum e isso pode ser precipitado.
As formas de viver a cena mudaram e seguem mudando e ainda estamos digerindo isso. Não tenho as respostas mas estou sempre aberto a procura-las.


10- O que você diria para quem está começando agora e lendo a essa entrevista?

Essa pergunta é difícil! Quem sou eu pra dizer... haha.
Acho que cada um naturalmente vai achando o seu caminho, se encontrando.
O que eu poderia dizer é que, em tempos de tantos conflitos, esteja sempre aberto ao diálogo. As vezes as pessoas deixam de se entender porque evitam o diálogo, uma crítica acaba sendo interpretada como ofensa e cria-se uma celeuma desnecessária.
Humildade não é humilhação, é saber escutar, tentar aprender com um outro ponto de vista. Nem sempre vamos concordar em tudo também, mas podemos conviver com as diferenças. 

Para maiores informações sobre o Real Gothic Brasil, acesse AQUI.