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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Gótico & LGBT


A relação do LGBT com subculturas e contra-culturas

O LGBT tem se tornado uma presença constante em diversos ambientes. Isto é algo muito bom, pois visibilidade é necessário para conhecimento, e conhecimento gera entendimento, que por fim (quase sempre) leva ao respeito. Contudo, muito antes desta onda de representatividade chegar a mídia das massas, o LGBT já era aceito em subculturas e contra-culturas, como é o caso do gótico e do punk.
Em 1977, a insatisfação com o governo britânico fez surgir na Inglaterra uma contra-cultura que abalaria as estruturas de diversas sociedades no mundo todo: nascia o punk. Moicanos coloridos, roupas rasgadas e uma bagagem política na mente, os punks fizeram muito barulho até o início dos anos 1980. Acabaram as margens da sociedade por sua postura inconformada com a situação em que o país e o mundo se encontravam na época. Clamavam por mudanças, pelo fim de toda forma de poder opressivo, muitos até mesmo pelo fim da política, estes defendendo um mundo num total estado de anarquia. Muitos jovens punks encontravam abrigo em casas noturnas, bares e boates
Na foto,um jovem com uma bandeira
onde se lê “Bicha Punk”. Na foto original,
 ainda pode ser lida a frase :“Not gay as in happy,
 but queer as in punk rock”.
LGBTs do subúrbio londrino, pois os próprios LGBTs também estavam a margem da sociedade. Esta marginalidade de ambos os grupos fez com que punks e gays fossem mutuamente receptivos uns com os outros, inclusive com a participação ativa de ambos os grupos na luta e protestos dos dois lados. Hoje, no centro de São Paulo é comum ver jovens que dizem ser punks, agredindo jovens homossexuais devido sua condição sexual. Estes indivíduos obviamente sequer foram procurar conhecer a história do movimento do qual dizem fazer parte.

Após o fragmento do Punk, surgiu também na Inglaterra outro grupo de indivíduos cuja sensibilidade artística era muito atrativa para jovens gays e lésbicas, e também muito pejorativa para a camada conservadora. Este grupo permanece em atividade e em constante expansão ainda hoje, e é claro, somos nós, góticos e darkwavers. O gótico é considerado uma irmã menor e mórbida do punk, algo como uma ideia que não veio do punk, mas que nasceu no mesmo meio, por falta de um termo melhor. Usando de uma estética fúnebre e essencialmente andrógina, o gótico teve um papel fundamental na cena gay, por assim dizer. Nos anos 1980, o gótico era a última moda, e sendo assim era comum você ver rapazes se batom preto, esmalte preto, lápis de olho preto... Nas palavras de Marc Almond (do Soft Cell) “(...) a moda daquele ano (1983) era o gótico- roupas pretas, batom preto, renda preta, cabelo preto-, você podia qualquer coisa, contanto que fosse preta. Rostos pálidos, bijuterias imitando ossos- qualquer coisa relacionada a morte estava na ordem do dia”. Ou seja, a estética da moda dos anos 1980 era
Anna Varney Cantodea (Sopor Aeternus)
que é uma das maiores referências
estéticas e artísticas para a cena
gótica atual, é uma transexual não-binária.
relacionada a morte e também a androginia e ambiguidade. Isso deu uma certa coragem as pessoas que ainda estavam “no armário”, inclusive há relatos de jovens transexuais da época que se revelaram para a família e para sociedade após o advento da estética gótica nos 1980. A sociedade aceitou melhor? Não. Porem, como uma dessas jovens disse, o primeiro passo estava dado, e as reações poderiam ter sido muito piores se não houvessem rapazes com mais maquiagens que suas namoradas andando nas ruas.
Voltando para o Brasil, em São Paulo sempre foi muito comum ver jovens gays que não eram adeptos da Subcultura Gótica frequentando bares e casas noturnas góticas, pois sabiam que ali naquele ambiente não sofreriam violência e agressão física ou psicológica por simplesmente serem quem são. Talvez por ser a subcultura que mais atribui papéis positivos as mulheres numa sociedade que, ainda hoje é machista, o fato é que a subcultura gótica sempre esteve aberta e receptiva a população LGBT. Inclusive apropria-se de diversos elementos deste universo, seja pegando emprestado a estética e comportamento de personagens de filmes gays, ou simplesmente pegando emprestado os “bordões” e frases tão frequentes no mundo gay. Isso não quer dizer que todos os góticos são gays. Concluir isso é errado. E muitas pessoas chegam neste tipo de conclusão pelo simples fato de não conhecer uma palavra que deveria estar presente em suas vidas todos os dias: respeito.

 À seguir, confira o depoimento de um de nossos leitores, Klaus Hensel, à respeito da sua condição de gênero e como o gótico o faz se sentir à respeito disso:

"Bom... Acho perfeito estar de alguma forma botando isso pra fora, porque querendo ou não é uma libertação da minha parte. Infelizmente até dentro da subcultura tem gente que não entende, mas... é mais aceitável, pois a subcultura se baseia também na liberdade de expressão, na liberdade estética artística visual. Eu sempre tentei fazer parte de um determinado "grupo" digamos, mas nunca me aceitaram bem pelos meus gostos "diferentes". Dentro da subcultura, além de me identificar completamente com as músicas (obviamente, porque se não curte as músicas, não tem como ser um gótico), eu fui uma pessoa muito bem aceita. Tanto que conversei com algumas pessoas semelhantes a mim, digo em relação ao meu eu. Eu me vejo como uma mulher e um homem no mesmo corpo, é algo muito complexo de explicar e entender... Mas eu gosto de ser tratado mais no masculino, mas esteticamente prefiro ser feminina. Eu gosto de fazer uma mesclagem artística, misturando o trad/dr com uma estética meio queer não binária (gênero fluído). Uso o visual não como base na subcultura somente, como também base no meu eu. Senti total liberdade de eu poder ser quem eu sou, sem me taxarem como "aberração", e fico grato pelas pessoas que eu conheci, que me respeitam e me vêem como eu realmente sou (que é por dentro). A maioria das pessoas julgam-nos somente pela aparência, o famoso pré-conceito (julgamento antecipado), mas obtive isso de forma contrária na subcultura. Todos me aceitaram de braços abertos. Às vezes é difícil até eu mesmo entender o que se passa pela minha cabeça, mas garanto que não é só eu que passo por isso, conheci muitas pessoas iguais a mim. E a questão de ser trans ou não binário não influencia nos gostos do indivíduo, tipo... Eu sou pansexual gray-a, o que seria isso? Pansexual: Gosta de homem, mulher, trans, travesti, hermafrodita, etc. Somente relacionado à pessoas. Gray-A: Raramente sente atração sexual, mas não chega a ser assexual. As pessoas criticam o fato de existir muitos termos, mas acho que o ser humano é tão complexo para se prender a algo, deixem nós nos libertar! Por mim não existiriam rótulos, apenas pessoas e pessoas, mas isso de alguma forma nos separam em grupos, sendo mais fácil nossa identificação. Eu sou trans não binário, não me sinto bem no meu corpo, mas em relação à estética visual, eu gosto de mesclar, mais pro lado feminino. Gosto de algo meio dark com dragqueen. Bom, é isso!"

Nós, góticos, não estamos interessados na sua orientação sexual, pois desde que ela não interfira na felicidade e nem prejudique o próximo, nós só queremos que você se divirta e aproveite a noite conosco, pois o dia já está para nascer! Aproveitemos, enquanto podemos...

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Especial DIVA DESTRUCTION

Por onde anda a famigerada e amada banda de gothic rock da belíssima Debra Fogarty?

Muita gente diz que o gótico morreu nos anos 1980, por que a coisa nunca mais foi a mesma. Em parte, essas pessoas estão mesmo corretas, pois aquele gótico realmente morreu, afinal os anos 1980 acabaram quando os anos 1990 nasceram. E junto com os anos 1990 muita coisa boa surgiu. Ao final dessa década, o gótico não apenas estava vivo, como estava respirando muito bem, obrigado (só não espalhe isso, ou a nossa fama de mortos-vivos é que vai morrer) e bandas como as famosas Blutengel (em atividade desde 1998) e The Birthday Massacre (em atividade desde 1999) mostravam isso claramente. O Diva Destruction foi uma das bandas novas da década do final dos anos 1990 que surgiu para dar um novo ar na cena gótica mundial.

Debra e Sharon, numa apresentação ao vivo, ano de 2004
Alguns dizem que elas surgiram para substituir a lacuna deixada pelo rompimento do Switchblade Symphony, embora nenhum ex-membro do Switchblade fizesse parte da banda de Debra Fogarty. A temática do Diva Destruction também era, de certa forma, mais tradicional que o ar de horror e fantasia do Switchblade Symphony. Muita gente diz que essa comparação entre as duas bandas só existe por que ambas eram comandadas por uma dupla de femme fattales.
Formado por Debra Fogarty e Severina Sol, a banda iniciou as atividades em 1999 nos Estados Unidos. Fogarty conta, numa de suas raras entrevistas, que criou o Diva Destruction com a intenção de expressar a dor que não tinha como colocar pra fora através de palavras. “Já perdi uma amiga bastante querida. Ela tirou a própria vida para dar fim a um ciclo de relacionamentos abusivos. Muitas de minhas letras mais ácidas, como a de ‘Cruelty Games’, falam de traição, masoquismo e tortura emocional. As coisas que escrevo falam sobre as profundezas da crueldade que existe na natureza humana e como as pessoas se destroem emocionalmente”.

Suas influências musicais são bastante variadas: de Siouxsie and the Banshees a Beethoven, o que nos faz entender o verdadeiro espetáculo musical que faziam em seu som híbrido. Faziam? Sim, faziam. Há mais de dez anos que a banda não lança nenhum tipo de material novo, sendo seu último álbum lançado em 2006 (Run Cold, que aliás é excelente e fez com que a banda ganhasse pelo segundo ano consecutivo o título de ‘melhor banda gótica dos EUA’). Em seu pouco tempo de atividade, a banda nos presenteou com três ótimos álbuns. Passion’s Price, de 2000, é um excelente disco de estreia. Nele você pode
Passions Price, disco que colocou a banda
entre as melhores da dark music
norte-americana
encontrar um show bastante dramático e teatral, que inclui um santuário para suicídios com forcas, bilhetes suicidas, velas e rosas mortas. Exposing the Sickness, de 2003, deixa a desejar em algumas músicas que soam muito parecidas umas com as outras, mas nos traz grandes pérolas musicais com letras muito fortes, como é o caso da desconhecida “Forgotten”. Neste álbum, a parte eletrônica é melhor explorada que no álbum anterior, nos mostrando o perfeito casamento do electro-goth com o gothic rock, fórmula que só estaria bastante presente em outra banda gótica, a London After Midnight. Run Cold, de 2006, mostra o lado mais maduro da banda até o momento e é um álbum realmente muito gostoso de ouvir. Destaque para a faixa de abertura “Rewritting History” e para a música “Electric Air”.


De 2006 para cá, não ouvimos mais nenhuma notícia real e concreta acerca do paradeiro da banda, exceto uma ou outra apresentação aqui e acolá e sem nenhum indício de retorno. Muitos dizem que acabou, o que realmente faz sentido depois de 12 anos sem lançar nenhum material. O que nós temos certeza, é que sentimos falta da voz poderosa de Debra Fogarty em contraste com guitarras, baixos, teclado e bateria perfeitamente sincronizados  num verdadeiro show de horror gótico. 

Maiores informações sobre o Diva Destruction na sessão de bandas do site Gothic Station