segunda-feira, 25 de junho de 2018

Entrevista: Sad Fayence

Viver na Subcultura Gótica quer dizer conhecer novas pessoas, fazer amizades, colaborar com projetos dentre muitas outras coisas.
Tivemos a oportunidade de conversar com o DJ, produtor, autor de zines e amigo Sad Fayence, ou também conhecido como Freon Heart. Neste bate-papo exclusivo, vamos saber um pouco dos primórdios anos góticos do belo rapaz, além de sua opinião sobre diversos assuntos polêmicos.

Confira!




1- Primeiro, gostaria de agradecer a oportunidade concedida aos nossos leitores para te conhecer um pouco melhor. Então, conte para nós quando e como você esbarrou na cena gótica/darkwave e quando começou a se identificar com ela:
Eu que agradeço, John!
Bom, meu primeiro contato com a cena gótica foi na primeira metade dos anos 2000, através de amigos do bairro. A identificação foi natural e quase que instantânea! Antes disso eu frequentava a cena indie. Nas baladas que eu ia também tocavam bandas como The Cure, Joy Division, Sioux e outros nomes básicos do Post Punk. Então, de alguma forma, eu já tinha um conhecimento superficial acerca do que constituía esse universo. Mas foi só depois que comecei a frequentar casas exclusivamente góticas que as coisas foram ficando mais claras (ou escuras hehe).

2- Como você definiria a sua estética?

Polêmicas a parte, sou um Trad Goth hahaha...
Tenho mesmo uma especial predileção pelo chamado “Early Goth”, a estética da
Batcave e todo o conceito que se desenvolveu em torno disso.


3- Sabemos que durante sua trajetória, você foi DJ de alguns eventos importantes. Conte para nós um pouco a respeito disso.

A primeira vez que toquei foi na After Dark, em 2006. Foi puro acaso. Estava indo com frequência na casa às sextas feiras e muitas vezes só tinha eu e alguns amigos lá dentro. Em algumas noites realmente nem DJ tinha! Deixavam um CD tocando e pronto. Foi ai que junto com um amigo assumi a função em algumas noites.
Em 2007, fui convidado pelo Kipper para discotecar no Projeto Gotham City, na Fofinho. Foram cinco ou seis edições. No final do mesmo ano, também toquei no Aeroflith – casa na qual mantive proximidade (mesmo com idas e vindas) até o seu encerramento em 2016.
Em 2008, fui residente do BlackOut, uma casa gótica que funcionou no bairro da Parada Inglesa. A partir de então, fui DJ convidado em outras tantas festas e casas: Dr Phibes, Via Underground, Confraria São Pedro, Luxuria, Madame...
Mas nunca encarei isso como uma profissão ou como fonte de “status”. Pra mim é diversão, hobbie, paixão. Fico contente em ter participado de tantas coisas legais, independente se foi como DJ, produtor ou público.

4- A Perky-Goth Party entrou num hiato há três anos, e este foi um evento que introduziu muita gente nova na cena ao longo de seus três anos de existência (2012-2015). Conte para nossos leitores um pouco sobre esse projeto; Podemos nutrir esperança para alguma nova festa no futuro?

A Perky também nasceu sem pretensão nenhuma. Tínhamos a ideia de fazer festas temáticas, alguém sugeriu o “tema” Perky Goth e resolvi fazer. Realmente, muita gente teve seu primeiro contato com a cena gótica (e até mesmo com a noite!) através da Perky. Jovens da cena Visual Kei e Lolita frequentavam porque a festa também abria espaço para bandas japonesas. A festa acabou se tornando eclética, expandiu seus horizontes, mas com honestidade e o esforço de se manter coerente. Acho que foi uma troca legal de experiencias.
O sucesso da Perky me fez arriscar produzir alguns shows internacionais maiores. Precipitado e vítima da má-fé de alguns, cometi alguns erros e descobri da pior forma possível as dificuldades de atuar nesse ramo de promover shows.
Mas não descarto uma volta, gosto muito de revivais haha...



5- Qual a sua opinião sobre o atual modelo da Wave Gotik Treffen?

As vezes me parece que o evento se descaracterizou um pouco, seja pelas atrações, seja pelo público. Mas, por outro lado, eu também entendo que “ampliar o leque” talvez seja a única maneira de manter um evento desse porte viável. Tenho essas observações críticas, mas também reconheço a importância e a grandeza do evento para a cena gótica mundial. Existem outros festivais que eu gostaria de conhecer mas, se tivesse a oportunidade, com certeza também visitaria a WGT.


6- Nos conhecemos há provavelmente seis ou sete anos atrás. De lá pra cá, quais foram as mudanças que você percebeu na cena?

É pouco tempo para analisar grandes mudanças, mas algumas coisas são evidentes. Por exemplo, nesse meio tempo as últimas casas alternativas exclusivamente góticas foram fechadas (Atmosphere e Aeroflith). Ainda tem o Madame, que mantem sua relevância, mas é um caso a parte. As redes sociais também ganharam mais força nesse período e explodiu o fenômeno dos vlogs do youtube. Acho que essas coisas já permitem uma reflexão acerca de alguns temas, principalmente no que diz respeito a identidade e a relevância das subculturas hoje, que me parecem cada vez mais corroídas pela cultura de consumo e descarte e esvaziadas pela fugacidade de interesses.



7- Conte-nos um pouco sobre o seu zine, o Última Quimera.

Eu sentia falta dos fórum e comunidades que permitiam uma troca de ideias mais ampla sobre assuntos que nos interessam. Me parece que isso foi perdido no modelo do Facebook, Youtube e, nem preciso dizer, do Instagram. Além disso, tem essa coisa de reviver uma publicação impressa, que circule de mão em mão, que permita um contato presencial. Particularmente, não gosto de ler online, pelo computador ou celular, prefiro os impressos, acho mais prático.
O Ultima Quimera nasceu do desejo de discutir a subcultura, refletir sobre as novas formas de entendimento e participação na cena. E também de resgatar memorias, compor a história da nossa cena. Tenho tido um interesse especial em estudar a história do gótico no Brasil.Eu já vinha planejando o zine desde pelo menos 2016, e em 2017 finalmente consegui produzir. No fim, foi interessante notar que o zine emergiu em consonância com outras publicações como o zine Ghosts of Diodati e a revista Gothic Station. Acho que era uma tendência o resgate dessa linguagem.

Já lançamos três edições e penso em produzir o numero quatro logo menos. 


8- Como e quando surgiu a ideia para montar um time de futebol formado por góticos, o Real Gothic Brasil? Como tem sido explorar um território até então novo por grande parte do público gótico?

Meu interesse por esporte, especialmente o futebol, me acompanha desde cedo. E não deixei de gostar quando me identifiquei como gótico (ok, posso ter deixado de praticar um pouco rsrs...).
Temos que tomar cuidado porque as vezes nos apegamos a estereótipos que podem nos auto-boicotar: a figura do gótico moribundo, alérgico ao sol, esbanjando um lirismo pedante etc...
O time também surgiu sem nenhuma pretensão. Em 2009, um pessoal de São Paulo organizou um jogo entre Góticos X Death Rockers. Foi tudo uma brincadeira, mas a partir de então percebi que outras pessoas da cena tinham interesse em jogar mais vezes. É aquela coisa, muitos de nós acabam se afastando do esporte já na fase da escola, seja por bullying, preconceito ou pelo excesso de competitividade que impera no ensino.
Percebi que criar um time com pessoas que viviam a mesma cena e compartilhavam os mesmos interesses poderia ser um caminho para aproximar e deixar mais a vontade uma galera que tinha vontade em jogar mas, de alguma forma, sofria ou se incomodava com essas questões.
Em 2012, conheci o Real Gothic, um time inglês formado por góticos que jogava durante o festival Whitby Goth Weekend (com a renda do jogo revertida para a fundação Sophie Lancaster). Foi o incentivo que faltava. Em outro continente, tinham góticos que também curtiam futebol. E assim nasceu o Real Gothic Brasil.
Na maior parte das vezes, somos incentivados, mas já houve quem se incomodasse e questionasse, mas eu até acho válido, não tenho problema em “me explicar” haha.
Costumo dizer que um gótico jogar futebol não prejudica sua identidade, pelo contrário, reafirma isso! 


9- Qual sua opinião sobre a atual cena no Brasil?

Eu não vejo uma situação tão crítica como alguns apontam. Claro que sempre pode melhorar! Já tivemos bons festivais, como a Thorns (esse mais “eclético”), o Wave Summer/Winter e o próprio Woodgothic, mas parece que sempre falta adesão. Mas eu acho arriscado cravar os motivos que prejudicam a cena. Tem muitas nuances nisso, desde a situação econômica do país até mesmo a queda de interesses duradouros nas subculturas em tempos de identidades fluídas. As vezes a saída mais fácil é apontar um “culpado” ou um “inimigo” em comum e isso pode ser precipitado.
As formas de viver a cena mudaram e seguem mudando e ainda estamos digerindo isso. Não tenho as respostas mas estou sempre aberto a procura-las.


10- O que você diria para quem está começando agora e lendo a essa entrevista?

Essa pergunta é difícil! Quem sou eu pra dizer... haha.
Acho que cada um naturalmente vai achando o seu caminho, se encontrando.
O que eu poderia dizer é que, em tempos de tantos conflitos, esteja sempre aberto ao diálogo. As vezes as pessoas deixam de se entender porque evitam o diálogo, uma crítica acaba sendo interpretada como ofensa e cria-se uma celeuma desnecessária.
Humildade não é humilhação, é saber escutar, tentar aprender com um outro ponto de vista. Nem sempre vamos concordar em tudo também, mas podemos conviver com as diferenças. 

Para maiores informações sobre o Real Gothic Brasil, acesse AQUI.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Discos recentes para gostar de Música Gótica


O termo gótico nunca antes foi tão popular, quanto agora (eu sei, nós também não gostamos disso). Não apenas no Brasil -onde cada dia surge um novo canal no YouTube "aparentemente" voltado para a cena- mas no mundo inteiro, principalmente com as megas produções envolvendo o atual modelo de festival da Wave Gotik Treffen. 
Pensando nisto e nos novos membros que tem ingressado na cena, listamos aqui dez discos desta década para começar a gostar de música gótica & Darkwave. Lembrando que: EBM e Industrial NÃO SÃO músicas góticas. Alguma ou outra banda pode ter músicas que possuem uma atmosfera mais sombria e dark, mas os critérios para essa lista não foram faixas isoladas, e sim o conjunto que forma o disco. 

10- THE BIRTHDAY MASSACRE- "Under Your Spell"
O último lançamento da banda canadense ganhou vida em junho de 2017. O disco é synth-rock da melhor qualidade, entregando um som híbrido e equilibrado entre os sintetizadores que lembram a New-Wave 80's com as guitarras característica da banda. As letras são de um cunho pessimista raramente visto nos materiais anteriores. Através das faixas, consegue-se perceber que o disco narra uma história de amor muito trágica que culminou num suicídio (a última faixa, "Endless", termina com um verso muito sugestivo: "Embaixo desses oceanos, tudo que vejo é o seu sorriso..."). Recomendamos que ouça o disco inteiro para entendê-lo. 

9- FROZEN PLASMA- "Dekadenz"
A banda, que é uma mistura de synth com future-pop, bebeu de fontes sombrias para entregar um disco igualmente sombrio. "Dekadenz" foi lançado em março de 2015 e é um deleite para quem gosta de música eletrônica dark. A faixa de abertura, "Age After Age" deixa o ouvinte completamente desorientado, pois sua letra é de uma crueza verdadeira e niilista sem igual, e apesar de dançante, vai te fazer querer pular da janela (não pule!). Além de "Age After Age", recomendamos também as faixas "Foolish Dreams" e "Faith Over Your Fear".

8- LES CHATS NOIRS- "Les Fleurs Des Morts"
O duo brasileiro de Santa Catarina já esteve presente aqui no nosso zine (confira a entrevista AQUI) e é uma das promessas da Darkwave nacional. Em 2017, lançaram o excelente "Les Fleurs Des Morts", disco para gótico nenhum colocar defeito. Em uma atmosfera completamente sombria, o ouvinte é transportado através da mais pura e refinada poesia à ambientes inóspitos e ameaçadores, com direito a referências vampirescas da literatura, tudo isso em meio à um darkwave de excelente qualidade. Destaque para as faixas "Lestat", "Eternal Love" e "Love and Passion".

7- ESCARLATINA OBSESSIVA- "Drusba"
Diretamente de São Tomé das Letras,MG, para o Brasil e o mundo, temos "Drusba", o mais recente disco da dupla de Post-Punk, Escarlatina Obsessiva. Lançado em dezembro de 2016, o disco nos conta à respeito da teoria do absurdo (daí o nome Drusba, ou absurd (absurdo em inglês) ao contrário), além de ter inspiração no livro "O Mito de Sisifo", de Camus. O que se pode extrair deste disco formidável e belamente executado, é que o absurdo é a única via de compreensão dessa dura realidade que vivemos. Destaque para "Primal Beast" e "Marcello".

6- THE CRUXSHADOWS- "As the Dark Against my Halo"
A tradicional banda de Dark/Electro-Goth lançou, em 2012, o excelente "As the Dark Against my Halo", cuja sonoridade traz seus já conhecidos elementos eletrônicos sob uma perspectiva e um olhar mais synth-pop do que nunca. Ótimo para quem gosta de dançar. Destaque para as faixas "Valkyrie" e "Dark Matter".

5- MERCIFUL NUNS- "Meteora VII"
Uma boa recomendação para quem gosta de Gothic-Rock com uma pegada mais tradicional, é o disco "Meteora VII", da Merciful Nuns. Lançado em setembro de 2014, o disco pode ser visto como um perfeito elo perdido do The Sisters of Mercy, contudo soando moderno e original. Recomendamos as faixas "Karma Inn" e "Phantom Wall"

4- DIARY OF DREAMS- "Elegies in Darkness"
Também lançado em 2014, este disco do Diary of Dreams entra muito fácil para a lista de discos góticos mais imperdíveis de todos os tempos. É de uma poesia sublime sem precedentes, é atmosférico ao extremo e passa a sutil sensação de ameaça e beleza dentro de uma aveludada escuridão. O disco ameaça o ouvinte a deixar de ouvi-lo, apenas para vê-lo fracassar miseravelmente. É impossível não se sentir, no mínimo, desconcertado após ouvir esse disco. Recomendamos o disco inteiro, sem pular faixa alguma.

3- SCARLET LEAVES- "Deep Sad Frustration"
De São Paulo, o Scarlet Leaves já se encontra na plataforma de bandas referências da Subcultura Gótica no Brasil. Este disco, de março de 2015, traz uma nova luz à banda. Emblemático, misterioso sem soar clichê, profundamente poético e suave, é um disco para ser ouvido sob luzes fracas preferencialmente em tardes frias de outono.

2- DRAB MAJESTY- "The Demonstration"
Drab Majesty é uma das bandas desta década que mais tem se destacado no cenário dark alternativo. Lançado em janeiro de 2017, "The Demonstration" é uma viagem no tempo, onde somos levados de volta à década de 1980 em um som triste e atmosférico que arrebata todo tipo de coração. Fortemente influenciado por diversas correntes artísticas, este disco remete a demonstração das fraquezas que pairam sob nossos corações, e como elas moldam parte do que nós somos. O som, carregado de synth-wave contracena com uma voz delicada e fantasmagórica ao mesmo tempo. Novamente, recomendamos o disco inteiro. 

1- DEAD CAN DANCE- "Anastasis"
Em hiato desde o final dos anos 1990, no ano de 2012 fomos surpreendidos com o anúncio de que o Dead Can Dance iria lançar um disco novo. E, 13 de agosto o disco é lançado, e o resultado é absolutamente fantástico. Considerado o melhor disco da banda desde "The Serpents Egg" de 1988, o título do disco é referente a palavra grega "Anastasis", que em tradução livre significa "ressurreição". Essa mensagem também é transmitida através da capa do disco, onde podemos observar um campo de girassóis mortos. Os girassóis, quando mortos, lançam sementes no solo para dar início à um novo ciclo de plantas. O disco é uma verdadeira obra-prima; o som característico da banda está de volta, desta vez nos levando em verdadeiras viagens musicais através da África e da Europa Renascentista. O tom das letras é melancólico, cheio de dúvidas à respeito do presente, pessimista com relação ao futuro. O misticismo retorna através da voz de Lisa Gerrard e suas canções sem letras; é deste disco duas das músicas mais bonitas de toda a carreira da banda: "Kiko" e "Return of the She-King". Não estranhe se você se sentir tonto e estiver com lágrimas nos olhos depois de ouvir esse tremendo disco. Recomendamos o disco inteiro.

E assim, encerramos mais uma lista.
Aos novos membros: comecem ouvindo estes discos para assim irem regressando para as demais décadas, até chegarem nos clássicos da década de 1980. Ouça tudo no seu devido tempo, e seja feliz. 
Lembre-se: ninguém nasceu sabendo e não se pode aprender tudo de uma hora pra outra. Por isso, aproveite e deguste tudo sem pressa. 

Carpe Noctem!

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Dez Músicas Góticas Perturbadoras


Quando se fala em música gótica, muitas pessoas se lembram de vampiros, sangue, cemitérios, morcegos... E de fato, muito deste tipo de imaginário permeia as nossas estantes musicais. Contudo nem apenas de sangue se alimenta nossos ouvidos, e você pode acabar descobrindo que existem músicas tão perturbadoras que muitas vezes é melhor evita-las; ou então, que alguma música que você já conhece e não reparou direito pode ter mais a dizer e mostrar do que imagina.
Pensando nisto, listamos aqui dez músicas góticas com uma ambiguidade tão perturbadora que vai fazer você ficar pensando duas vezes antes de ouvi-las de novo. Preparados?

10- DAVID BOWIE- "Quicksand"
A carreira do eterno camaleão do rock é pontuada de coisas estranhas. Muitas foram as ocasiões em que David Bowie parecia lutar contra o fascínio e o medo pelo sobrenatural. Em determinada ocasião, jurou ter visto o rosto de Satanás numa piscina de água quente. Outra vez, jurou que haviam duas bruxas fantasiadas de fãs que tencionavam mata-lo num ritual. Bowie afirmou mais de uma vez que tinha certeza de ter atravessado portais para outras dimensões e de ter visto coisas que nunca deveria ter visto. Por muito tempo esteve envolvido com o oculto, e podemos ver isso mais claramente na letra da música "Quicksand". Do disco "Hunky Dory", de 1971, a letra da música é uma verdadeira ode a Aleister Crowley e a Aurora Dourada, a segunda sociedade ocultista mais importante do século passado. Bowie diz "Estou mais perto da Aurora Dourada, Imerso no uniforme de Crowley, De imagens retratando o reinado sagrado de Himmler (...)." Himmler foi um dos principais líderes do Partido Nazista.

9- DIVA DESTRUCTION- "Cruelty Games"
A famigerada banda norte-americana de gothic rock traz um repertório variado em sua pequena e breve discografia. "Cruelty Games", de seu disco de estréia, "Passion's Price" é, segundo a vocalista Debra Fogarty, uma música sobre um ciclo de relacionamentos abusivos e o quanto as pessoas podem ser cruéis  umas com as outras. "Em nossos jogos cruéis, nossos sonhos cruéis, nossas cenas cruéis, nossa crueldade, crueldade!" A vocalista conta ainda que escreveu essa música após perder uma amiga muito próxima que não conseguiu dar um fim a esse tipo de relacionamento. 

8- X-MAL DEUTSCHLAND- "Incubus Succubus II"
Lançada em 1982 pela icônica banda de post-punk alemã, essa música basicamente retrata os polos inversos das coisas que se sobrepõem na vida, como vida e morte, sol e lua, frio e calor, corpo e alma. Contudo, a música é executada de uma forma muito estranha. Os vocais de Anja parecem evocar os demônios que emprestam seu nome a música, e há relatos de pessoas que declararam ter visto coisas no palco durante a apresentação dessa música. Incubus Succubus são duas entidades demoníacas predatórias ligados ao pecado da luxúria. 

7- THE BIRTHDAY MASSACRE- "Violet"
Conhecidos por suas melodias synth em paralelo com algum peso de guitarras e a voz suave da vocalista Chibi, a The Birthday Massacre tem uma bela carreira no meio alternativo, além de uma boa reputação na cena gótica e Darkwave, por ter discos consistentes e cada vez mais maduros. As interpretações sobre os conceitos dos discos costumam variar. A música "Violet" foi lançada no disco de mesmo nome no ano de 2004, e mostra muito mais do que se vê num primeiro olhar. Versos da música sugerem pedofilia e o extremo e constante sofrimento da criança, que sente-se dentro de uma prisão violeta, machucada por quem deveria ama-la. "(...) Trazendo lágrimas para os olhos que não dormem, Memória que corre o curso do tempo, sangue corre frio além da prisão violeta, por visões violentas, e então discos quebrados tocam enquanto você nos joga fora (...)." Tudo isso permeado por uma melodia desolada, que traz sons de brincadeiras infantis para completar o efeito do que se está sendo cantado.

6- DEAD CAN DANCE- "The Host of Seraphim"
Do disco "The Serpent's Egg", de 1988, essa música não possui letra e é cantada pela vocalista, Lisa Gerrard, num idioma desconhecido. Segundo a própria Lisa, é uma música que expressa toda a dor e agonia que uma alma consegue sentir  até seu limite, e que não existe palavras que possam expressar a dimensão disso. Por este motivo, não tem letra. A música é angustiante do início ao fim, chega beirar o desespero, mas possui também um certo tom reflexivo em meio a toda dor. 

5- THROBBIN GRISTLE- "Hamburguer Lady"
Os veteranos da música industrial lançaram essa música em 1978, no disco "DoA: The Third and Final Report of Throbbin Gristle." A música, bem característica da banda, nos leva através de uma narrativa permeada de barulhos ("até onde é possível discernir barulho de música?" era uma das perguntas levantadas pela banda) e nos conta a história de uma mulher que, um dia, resolveu tomar banho de sol, e no lugar de protetor solar, usou óleo de cozinha no corpo, resultando em queimaduras de terceiro grau. Não é a toa que eles são chamados de verdadeiros pais da música industrial original.

4- SOPOR AETERNUS- "The Goat"
Anna Varney possui um repertório gigantesco de músicas perturbadoras. "The Goat", não aparenta ser uma música em si, mas sim lamentos inteligíveis cheios de desespero e dor, com versos despedaçados de horror e angústia. Você pode conferir essa música no disco "Voyager: The Jugglers of Jusa", de 1997.

3- SWTICHBLADE SYMPHONY- "Waiting Room"
As eternas queridinhas do Darkwave, Tina Root e Susan Wallace, fazem muita falta. O Switchblade Symphony é uma das poucas bandas que costuma agradar todas as vertentes dentro da Subcultura Gótica. Mas elas vão muito além dessa imagem de musicistas talentosas... Na versão deluxe de seu lendário disco, Serpentine Gallery, de 1995, é possível encontrar uma música chamada "Waiting Room" que possui interpretações das mais macabras possíveis. A letra da música começa nos mostrando uma pessoa que não deveria estar num determinado lugar. Conforme avançamos, entendemos que se trata de um estupro seguido de um sequestro. De forma totalmente niilista, a música termina da seguinte forma: "Aguente firme, não há relógios aqui dentro, alguma coisa está errada, ele se sente tão estranho esta noite, não se preocupe, algum dia você vai sair... você vai sair..."

2- SIOUXSIE & THE BANSHEES- "Candyman"
Siouxsie causou muita polêmica em seu início de carreira. De seios nus à suásticas ironicamente pintadas pelo corpo, letras em tom de pouca tolerância e uma presença de palco maravilhosa. Em 1986, com o disco Tinderbox, ela lança a música "Candyman", que conta uma narrativa sobre tráfico de drogas segundo o ponto de vista do traficante. Num dos versos: "Doentio e cativante, seu veneno procura, pelos jovens que não entendem, o perigo em suas mãos (...)."

1- THE BIRTHDAY PARTY- "Deep in the Woods"
A antiga banda de Nick Cave deu o que falar em sua primeira existência, antes de deixar de existir e vir a se tornar a Nick Cave & the Bad Seeds. Mas a coisa realmente fugiu de controle com o lançamento do disco "The Bad Seed", em 1983. A música "Deep in the Woods" nos conta uma história abominável  sobre o assassinato de uma menina sob o ponto de vista do assassino. "A madeira come a mulher e despeja mel em seu corpo na lama, seu vestido flutua no fundo do poço e assume a forma do corpo de uma menininha (...)"
Mais tarde, Nick Cave afirmaria em uma entrevista que essa era a única música que se arrependeu de ter feito em toda sua trajetória.

Sinistro não?
Lembrando que o objetivo do artigo não é ferir a integridade de ninguém, e sim mostrar um lado do universo que permeia a música da Subcultura Gótica. Tratar de tais temas coloca uma luz sob assuntos que há muito vem sendo negligenciados pela música das massas. É uma forma de colocar pra fora demônios interiores e quem sabe, ajudar quem passou por algum tipo de experiência semelhante?!

Alguma música ficou de fora da lista? Envie pra gente! Comente e deixe-nos a sua opinião sobre o assunto! 
Até a próxima lista...


quarta-feira, 6 de junho de 2018